Sequenciamento Fora de Ordem

Sequenciamento fora de ordem”. Para os íntimos, apenas “OoOS”, de Out of Order Sequencing.

 

Provisão divina para os jogadores, tormento eterno para os advogados de regra, prazer e dor para os juízes, e fonte de incontáveis paradoxos temporais no Multiverso. Mas o que são, e para que existem? Por aqui, eu tentarei guiá-lo através das distorções da quarta dimensão!!

 

Tecnicamente correto é a melhor forma de estar correto

“Magic é um jogo complicado”. É assim que Matt Tabak começa os boletins de atualização das Regras Abrangentes. E de vez em quando você possivelmente irá concordar com isso.

 

Vamos começar com um cenário familiar para todo mundo. Eu estou começando meu turno. Eu compro do meu grimório, fico encarando meu novo card intensamente, na esperança que ele se transforme em outro card, e então eu desviro meus terrenos.

Levante sua mão se você pensou imediatamente: “Você deveria ter desvirado PRIMEIRO!!!”

Correto. Mas quantos de vocês fazem um pouco dos dois? Quantos num torneio iriam me interromper para aplicar uma infração? Eu acho que “todos” e “ninguém”.

Este é um caso clássico de sequenciamento fora de ordem: se um jogador faz algumas ações em uma “ordem-fora-das-regras”, mas o impacto estratégico não é afetado, enquanto o resultado é claro, não há motivos para minúcias. Vamos jogar Magic e nos divertir!

OoOS é coberto por uma seção específica da Política de Comunicação nas Regras de Torneios de Magic; agora que temos um vislumbre disso, vou introduzir uma forma sintética da regra que em breve será útil (consulte a seção 4.3 das Regras de Torneio de Magic para a versão completa).

É permitido aos jogadores fazer um sequenciamento fora de ordem, contanto que:

  • cada etapa da sequência seja legal se feita na ordem correta;
  • o resultado é um estado de jogo claro e legal;
  • a ordem errada não concede informações prematuras que podem afetar a sequência;
  • não seja uma tentativa de explorar as reações dos oponente para modificar de forma vantajosa uma sequência em progresso.

Todos saúdem o Hypnotoad

As Regras de Torneio dizem que “Um jogador deve ter uma vantagem por entender melhor as opções oferecidas pelas regras do jogo, ter maior consciência das interações no estado do jogo atual e planejamento tático superior.”(MTR 4.1). Ser capaz de ganhar vantagem tática pelo conhecimento de regras é válido e precisa ser recompensado. Mas isso não significa que mesquinharias devam ser; significa ser recompensado num impacto real na jogabilidade.

Por exemplo, se meu oponente mantém {W}{G} preparado para fazer a habilidade desencadeada de Retorno de Kozilek falhar com Comando de Dromoka, ele se encontrará em maus bocados. Por outro lado, se ele estiver blefando essa jogada porque percebeu que eu sou um jogador inexperiente, ele merece essa vantagem.

 

Vamos examinar um cenário de “OoOS contra conhecimento superior de regras”:

Amy: ”Thoughtseize em você”.

Hypno: “OK…”

Amy coloca Thoughtseize em seu cemitério.

Hypno: “JUIIIIZZ!!!”

Juiz: “Oi! Como posso te ajudar?”

Hypno: “Amy colocou Thoughtseize no cemitério antes que eu revelasse meus cards ”.

Por volta dos anos 2000, esse era um dos raciocínios favoritos para ganhar jogos através de Erros Processuais de um oponente… Alguém percebeu que isso não era saudável para o jogo e inventou a Decisão pela Intenção. Esse é o antepassado do sequenciamento fora de ordem. Se você estiver lendo o artigo, tenha em mente que ele foi escrito há mais de 10 anos!

Eu espero que você não esteja hipnotizado pelos aspectos técnicos desse cenário: mesmo que Hypno deseje que acreditemos que Amy resolveu Thoughtseize sem ter feito qualquer escolha, ou ele espere que uma advertência deixe seu oponente nervoso, não podemos decidir que ele está certo. Mover imediatamente Thoughtseize para o cemitério enquanto espera pela sua resolução não tem um impacto real e, para questões de jogabilidade, nós vamos considerá-lo na pilha.

Num cenário improvável onde isso possa ser significativo (o oponente deseja responder com Saquear Memória), Hypno (ou o juiz) pode pedir para que se execute a sequência na ordem correta para ele agir apropriadamente. Isso NÃO é uma infração; isso é permitido pelas regras de Sequenciamento Fora de Ordem.

 

Por favor, lembre que um jogador não pode requisitar prioridade e não realizar nenhuma ação com ela (MTR 4.2): advirta os jogadores se sua intenção for apenas “quebrar o ritmo de jogo”.

 

Não, apenas os dois

Na presença de um sequenciamento Fora de Ordem (OoOS), reunir informações de como as ações foram realizadas e o que os jogadores comunicaram é de máxima importância: de forma geral, nós não permitimos ambiguidade, enquanto privilegiamos clareza de intenção. Vamos ver como um pequeno detalhe pode fazer um cenário se desenvolver diferentemente:

 

Cenário A

Leela: “Metapaisagem

Rodriguez: “OK…”

Leela: “Sacrifico tudo”. Ela coloca Metapaisagem no seu cemitério, então pega seu grimório.

Rodriguez: “Espera! JUUUIIZZZZ!!!”

Juiz: “Oi! Como posso te ajudar?”

Rodriguez: “Leela colocou Metapaisagem no seu cemitério antes de sacrificar qualquer coisa, então para mim ela resolveu para zero.”

OoOS: sim ou não?

Resposta: Eu espero que todos concordem que isso é um flagrante da tentativa de advogar as regras de Rodriguez… A resposta é sim, claro. Leela claramente começou o que ela estava fazendo e ela não ganhou nenhuma vantagem estratégica extra.

 

Cenário B

Leela: “Metapaisagem”

Rodriguez: “OK…”

Leela coloca Metapaisagem no seu cemitério, então pega seu grimório.

Rodriguez: “Espera! JUUUIIZZZZ!!!”

Juiz: “Oi! Como posso te ajudar?”

Rodriguez: “Leela colocou Metapaisagem no seu cemitério antes de sacrificar qualquer coisa, então para mim ela resolveu para zero.”

OoOS: sim ou não?

Resposta: Por mais que pareça estranho, dessa vez é não. Isso significa que Rodriguez está certo? Não exatamente. Tem duas ações a serem analisadas aqui. A primeira é colocar Metapaisagem no cemitério, o que é estrategicamente insignificante. A segunda é pegar o grimório para resolver Metapaisagem. O verdadeiro problema aqui é que Leela esqueceu de declarar quantos terrenos ela está sacrificando. Isso pode permitir que Leela conte os terrenos no seu grimório e decida por um número: isso é uma informação estratégica que ela não pode ter acesso por OoOS. Leela cometeu uma Violação de Regra do Jogo aqui: ela precisa declarar sua intenção, para então ela poder resolver a mágica da maneira correta.

 

A Porta Assustadora

 

Momento de se desafiar!

 

Cenário

Hermes: “JUUUIIZZZZ!!!”

Juiz: “Oi! Como posso te ajudar?”

Hermes: “Bárbara ativou Profeta Louco, mas imediatamente comprou ao invés de descartar”.

OoOS: sim ou não?

 

Resposta: Claro que não. Barbara obteve mais informação estratégica comprando primeiro ao invés de descartar. Há uma razão para que o card represente um velho homem louco e não um jovem prodígio. Por favor, investigue, e se acreditar que não houve Trapaça, solucione como Erro de Card Oculto.

Nota. Nesse cenário, a solução de Erro de Card Oculto apropriada é aquela “se o erro coloca cards em um conjunto de forma prematura”. Bárbara revela sua mão para Hermes, que irá escolher o card “comprado” (entre os que não lhe são conhecidos, se houver) que não será descartado, então Barbara irá escolher o que será descartado no resto e finalmente ela irá colocar em sua mão o card escolhido por Hermes.

 

Cenário

Carol controla Mito Concretizado e, na sua primeira fase principal, conjura Forragem de Dragão. Hubert imediatamente permite isso dizendo “ OK, você fez”.

Então Carol coloca duas fichas em jogo e, imediatamente após, adiciona um marcador de conhecimento em seu encantamento.

Hubert arregala seus olhos e…

Hubert: “JUUUIIZZZZ!!!”

Juiz: “Oi! Como posso te ajudar?”

Hubert: “Carol fez suas fichas entrarem no campo de batalha antes de pôr um marcador no encantamento. Ela esqueceu da habilidade desencadeada!”

Carol: “O que?!?! Eu fiz tudo certo, você está levando as regras ao pé da letra!”

Hubert: “Essa não é a maneira certa de fazer isso!”

Juiz: “Hubert, vamos para longe da mesa um pouco para que você possa me explicar calmamente a situação. Carol, não se preocupe, eu vou ouvir você também.”

Os dois concordam com a história acima. OoOS: sim ou não?

 

Resposta: Sim. Embora Hubert possa estar certo sobre as ações não serem feitas na ordem apropriada, colocar as fichas no campo de batalha primeiro não garante a Carol qualquer vantagem estratégica sobre a ação de colocar o marcador. Além disso, ambos os jogadores concordam que tudo foi feito como um único bloco de ações sem pausa, então OoOS é aplicável.

Se Hubert precisa agir em resposta em algum lugar no meio, ele pode pedir para Carol realizar as ações dela na sequência correta.

 

Cenário

Philip possui um Eskirge da Câmara, um Arcbound Ravager com 1 marcador de +1/+1 e vários artefatos. Morgan possui apenas uma única cópia de Vedalken Shackles no campo de batalha. Philip ataca Morgan com Eskirge, Morgan ativa os Shackles para roubá-lo. Philip pega quatro artefatos com uma mão, então confere novamente as Ilhas de Morgan, que são quatro. Philip pega Ravager com a outra mão e fala “Sacrificando, colocando 5 marcadores em Eskirge, então Shackles vai falhar”, para então colocar Ravager no seu cemitério.

Morgan: “JUUUIIZZZZ!!!”

Juiz: “Oi! Como posso te ajudar?”

Morgan: “Philip disse que ele colocou 5 marcadores, mas ele sacrificou apenas o Ravager antes colocar todos os outros artefatos em seu cemitério. Na minha opinião, ele colocaria apenas um marcador em seu Eskirge”.

OoOS: sim ou não?

Resposta: Absolutamente sim. Graças a “the little autonomy of cardboard pieces” (citando Danilo Raineri), o uso de duas mãos para colocar os cards em movimento é uma boa idéia. É perfeitamente normal se, no meio de um OoOS, algum estado do jogo intermediário pareça ilegal; mas a sequência será completada quando Philip pôr os outros 4 artefatos no seu cemitério também, e então o estado de jogo final será legal. O que não será permitido à Philip é alterar os quatro artefatos escolhidos.

 

Cenário

Timmy: “Life from the Loam

Robot-Devil: “OK”

Timmy coloca Life from the Loam no topo de seu cemitério e pega-o todo para escolher três terrenos.

Robot-Devil: “JUUUIIZZZZ!!!”

Juiz: “Oi! Como posso te ajudar?”

Robot-Devil: “Timmy conjurou Life from the Loam sem declarar alvos. Eu disse ‘OK’ e agora ele quer pegar de volta três terrenos do cemitério”.

Timmy: “Mas… Eu…”

OoOS: sim ou não?

Resposta: Definitivamente não, mas isso não significa que Robot-Devil está certo…

De forma geral, OoOS não é considerado quando alguém não declara alvos e espera a resposta de seu oponente. Nós devemos investigar a situação e provavelmente nós terminaremos comum Violação da Regra do Jogo. Embora o texto de Life from the Loam permita ela ser conjurada sem alvos, uma investigação rápida determina que a intenção de Timmy não é abusar disso, mas sim apenas um erro. Forçar ele a jogar sua mágica sem qualquer alvo seria uma distorção da sua real intenção e o triunfo do “advogar as regras” num jogo complexo no qual nós não desejamos que seja regido por esse tipo de comportamento.

Batalha de Raciocínio

Por último, vamos mergulhar em dois cenários aparentemente similares e algumas vezes confusos.

Cenário 1

Uma longa partida de atrito (sem tempo) entre dois veteranos está em curso…

Nibbler está realmente focado; ele está encarando suas criaturas em jogo. Sem perguntar nada à Gleemax, ele vira 2 Urso Garra de Runa, então vira também Caverna Mutável, vira uma Floresta, olha para seu oponente e diz: “Ataco desse jeito”

Gleemax: “O que? Não, não, JUUUIIZZZZ!!!”

Juiz: “Oi! Como posso te ajudar?”

Gleemax: “Nibbler virou suas criaturas para atacar primeiro, depois ele virou seu terreno e deseja pagar para animar ele. Eu acredito que passou o momento dele fazer isso!”

OoOS: sim ou não?

Resposta: Claro que SIM. Verdade, MTR 4.2 define o importante e famoso atalho que qualquer intenção de ataque do jogador ativo significa passar a prioridade diretamente até a etapa de início de combate. Entretanto, isso é porque não é permitido a Nibbler “enganar” Gleemax a dar um Comando Críptico ou não e assim atacar com uma Caverna Mutável sem impedimentos. Nibbler está tomando ações num único bloco aqui, sem pausas significantes que nos faria pensar que ele está tentando ganhar alguma informação extra.

Nota. Eu quase posso ouvir a voz de vocês: “Mas e se Nibbler perguntou se poderia atacar?”. ”E se…”. Infelizmente, a máquina de ‘e-se’ ainda não foi inventada e não posso deixar que vocês a usem, portanto vocês deveriam ler o artigo de Kevin “Attacking, Blocking and Shortcuts” tal como o artigo de Toby “Do not pass go” para mais detalhes.

 

Cenário B

Vamos avançar rapidamente para três turnos depois…

Gleemax: “Eu gostaria de atacar”

Nibbler: “OK”

Gleemax: “Ataco com três Saqueador Cefálida”

Nibbler: “Bloqueio com Ursos Cinzentos, animo Caverna Mutável, jogo Ashcoat Bear, bloqueio ambos os outros!”

Gleemax: “O que? Você começou a bloquear, não pode jogar mais nada! JUUUIIZZZZ!!!”

OoOS: sim ou não?

Resposta: Levante suas mãos se você disse ‘não’… Espera, nós temos um SIM aqui! Na verdade, esse é um exemplo mencionado pelo MTR! Por que permitimos isso?

  • Primeiramente, Nibbler fez suas ações como um único bloco, ele não está tentando ganhar nenhuma informação extra.
  • Segundo, essa jogada de Nibbler não impede Gleemax de agir. Nibbler é quem está dando informações, afinal! Se Gleemax precisa agir antes dos bloqueios serem finalizados, ele poderá requerer a Nibbler que ele tome suas ações na ordem correta.

A única razão para Gleemax ficar contra essa regra é não ter sido concedido dano gratuito (e talvez salvar uma remoção) pela sua exploração dos termos técnicos. Portanto essa decisão é consistente com a filosofia da anterior.

 

Antes de dizer adeus, eu gostaria de agradecer a Jacopo Strati por ter me encorajado a escrever esse artigo e, juntamente a Andrea Mondani e Salvo La Terra, pela revisão preciosa e completa da versão italiana original!

Agradecimentos especiais a David de la Iglesia e Maria Zuyevaa pelos seus esforços em conseguir que a versão internacional deste artigo fosse publicada e, por último, mas não menos importante, a Kevin Desprez, pela revisão final e pela publicação em seu blog pessoal!

Eu espero que, depois dessa leitura, se tornar seu próprio avô/avó seja o único paradoxo temporal que assuste vocês! Se tiverem quaisquer dúvidas sobre esse artigo, vocês podem me contactar via Facebook ou Judge Apps… Talvez esses meus endereços ainda estejam funcionando nos anos 3000!

Donato Del Giudice