Jogador, por favor, me chame!

Lucas ‘OKA’ Martins
Nível 1, Fortaleza – CE

Lucas ‘OKA’ Martins
Nível 1, Fortaleza – CE

Olá, me chamo Lucas Martins (melhor conhecido como OKA), atuo diariamente em uma LGS e gostaria de tratar neste artigo a relação entre nós, juízes, e os jogadores que atendemos ou deixamos de atender. Meu intuito é conversar com vocês sobre algo comum e que atrapalha o nosso serviço: o jogador não levantar a mão e falar “Juiz!”.

Atuamos para garantir a integridade do evento e a melhor experiência para os jogadores, mas o  grande problema é que parte deles não sabe disso. Muitas vezes nós, mesmo sem fazer por onde, somos tidos como uma figura punitiva que está presente para capturar em flagrante quem está quebrando as regras. Então é até compreensível jogadores que têm essa visão achem que nos chamar é, de certa forma, acusar o oponente. O ideal é que fôssemos chamados sempre que algo que foge da normalidade aconteça. Por vários motivos, alguns jogadores deixam de nos chamar durante o evento e nos procuram após o término do mesmo. Gostaria de citar alguns questionamentos e desabafos dirigidos a mim e a outros colegas juízes, e que se enquadram nessas chamadas fora do momento correto:

“Meu oponente jogou tão lento que devia ser ilegal. Ele perguntava várias vezes o tempo restante da rodada e ficou arrastando até que a partida empatasse. Não chamei um juiz porque não gostaria de ser o cara desagradável e chato da galera.”

“Olha… um oponente meu chegou a me oferecer 1 booster a mais caso eu concedesse a partida. Não te chamei porque ia criar um clima ruim.”

“Uma pessoa que estava de fora do jogo lembrou ao meu oponente de uma habilidade desencadeada que ele havia esquecido… isso impactou muito meu jogo e eu acabei perdendo.”

“Eu estou aprendendo a jogar com meu deck novo, mas meu oponente reclamava com frequência que eu estava jogando lento e ficava fazendo piada com os amigos… não quero mais participar desse tipo de evento.”

Em sequência eu sempre questionei o porquê da pessoa não ter me chamado (ou qualquer outro juiz presente) e, em grande parte, a resposta gira em torno de três pontos: falta de conhecimento, insegurança e receio. Mas por que é tão comum esse comportamento vindo do jogador?

A princípio, as pessoas querem se divertir jogando Magic. Muitas delas não nos chamam porque não querem criar um clima tenso com o oponente e com quem está apenas assistindo a partida. Relevar o erro de jogo ou corrigi-lo da maneira que “parece melhor” esquiva da situação indesejada. Todavia, abre-se espaço para uma solução errada e/ou injusta acontecer. Nós devemos ser chamados para garantir que os jogos permaneçam íntegros, sem trapaças. Por conta dos motivos já citados, os trapaceiros costumam se aproveitar do oponente que não chama o juiz, assim, imagino que consigamos intervir em uma parcela muito pequena dessas infrações. Claramente não notaríamos o padrão e a trapaça poderia sair despercebida com um simples “nossa, foi mal, me confundi”.

Então, como amenizar esse problema e incentivar os jogadores a nos chamar? Gostaria de pontuar algumas atitudes que podem ajudar a evitar esses casos:

  • Apresente-se de forma amigável como juiz para os jogadores e informe que está à disposição para garantir que eles tenham uma boa experiência ao jogar. Como juiz responsável pelo evento, é importante se mostrar amistoso e disponível, incentivando as pessoas a te chamarem. Quem não te conhecia previamente agora já sabe o nome de quem vai estar lá para ajudar.
  • Esteja ciente que sua linguagem corporal importa. Seus gestos mais simples influenciam bastante o quão confortável o jogador se sentirá ao te chamar.
    – Se possível, ao atender a um chamado, se abaixe um pouco para se aproximar da altura em que o jogador está.
    – Mesmo que aconteça uma complicação ou simplesmente o evento esteja exigindo muito de você, tente não expressar sentimentos negativos.
    – Evite ficar de braços cruzados ou com mãos na cintura. Essas posturas podem sugerir que você seja uma pessoa crítica, inacessível ou defensiva.
  • Caso falem com você após o evento acabar sobre algo que aconteceu, aproveite essa oportunidade para educar o jogador. Explanar ao jogador o seu papel enquanto juiz é importante. Tenha uma conversa amigável, explique o que poderia ser feito para resolver a questão que ele trouxe e deixe claro que ele pode chamar um juiz em qualquer situação.
    – “Chame um juiz se algo errado acontecer”.
    – “Chame um juiz se não tiver certeza de algo”.
    – “Chame um juiz se algo estiver te deixando desconfortável”.
    Deixe claro que nos chamar não é o mesmo que acusar seu oponente e que estamos aqui para fazer o que é mais justo para ambos os lados.
  • Se mostre sempre disposto a ajudar, mesmo fora de um evento. Jogadores me procuram para vários questionamentos sobre o jogo e eu os auxílio sempre que posso. No momento em que alguns jogadores te enxergam como alguém amigável e que só tem a acrescentar, outros jogadores também passam a te enxergar assim. Dessa forma, sempre que eles precisarem, acredite, eles irão te chamar.
  • Trabalhe com outros juízes para mostrar que não existe apenas você para auxiliar, todos têm o mesmo princípio. Alguns jogadores tendem a tirar dúvidas comigo dentro e fora de eventos. Algumas vezes, peço a ajuda de um outro colega juiz, que frequenta a mesma LGS que eu, para sanar as dúvidas ou lidar com qualquer problema que seja. Com isso, estou passando a mensagem que qualquer outro juiz também está lá para auxiliar. Além disso, deixo claro que trabalho em equipe é a chave para solucionar alguns problemas.
  • Esteja sempre vigilante. Observe, através da expressão facial e corporal, jogadores que podem estar precisando de ajuda mas estão receosos para levantar a mão. Se aproxime e ofereça auxílio.
  • Manter um diálogo aberto com outros colegas juízes para fazer o mesmo dos itens acima. Afinal, somos uma comunidade e contamos uns com os outros para fazer um bom trabalho.

Conquistar a confiança dos jogadores em nós e no nosso trabalho é importante. Espero ter contribuído e inspirado vocês a entender e se aproximar mais dos jogadores que ainda não nos vêem como parceiros. Estou aberto a qualquer feedback e discussão sobre o assunto. Grande abraço!

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