AVISO: Os exemplos aqui descritos têm como finalidade estar nos extremos do espectro dos Retrocessos. A maioria das situações não terão um corte tão claro e pequenas alterações nos cenários apresentados podem afetar a decisão de retroceder ou não. Tome este artigo como ele é: uma apresentação de raciocínios vitais que você pode usar antes de você fazer sua própria aplicação das regras!
Se você fizer uma média entre complexidade e recorrência, retroceder é sem sombra de dúvida a coisa mais complexa que um juiz precisa fazer. Eu já repassei algumas metodologias a um tempo atrás neste artigo e por seguidas vezes eu tento abranger retrocessos (ou não) mais complicados os quais eu preciso considerar quando estou arbitrando.
Final de semana passado, em Birmingham, ao analisar uma apelação, eu pude perceber que a principal razão pela qual o do juiz optou por deixar a situação como estava era que uma Fetchland havia sido sacrificada na situação.
Embora seja extremamente importante levar em conta a presença de uma Fetchland no campo de batalha, estou com a impressão de que isso se tornou uma crença de que uma Fetchland no campo de batalha anula completamente a possibilidade de haver um Retrocesso.
Mesmo que seja verdade que uma Fetchland possa prejudicar fortemente alguns retrocessos, é importante avaliar o quanto isso é verdade!
Caso 1: Retrocedendo através de um card comprado
A situação
Antônio conjura Tarmogoyf. Nelson controla uma Ilha e um Lago Alpino Fervente e vira ambos para conjurar Aprisionar.
Tarmogoyf volta para mão de Antônio, Nelson compra uma carta, Antônio passa o turno, e Nelson percebe seu erro no momento em que desvira o Lago Alpino Fervente.
Ponto de Restauração
Primeiramente, se você retroceder, você precisa voltar ao ponto onde Tarmogoyf está na pilha e Aprisionar retornou para a mão de Nelson.
De fato, você nunca pode retroceder até o meio da conjuração de uma mágica, pois isso significaria que um jogador teria que dar alvo em si mesmo com um Raio porque se esqueceu que seu oponente tinha uma Linha de Força da Santidade.
Nota: Mesmo que você não possa voltar para o momento em que a mágica está sendo anunciada no caso de um erro que aconteceu enquanto ela era conjurada, você pode voltar para a resolução de uma mágica que foi conjurada legalmente se o erro ocorreu enquanto essa mágica resolvia.
Fazendo o retrocesso
Como sugerido no artigo citado anteriormente, aqui está a versão passo a passo do retrocesso.
- Nelson vira seus terrenos
- Nelson retorna um card aleatório para o topo de seu grimório
- Nelson retorna Aprisionar para sua mão
- Nelson desvira seus terrenos.
Consequências de se deixar como está
A consequência mais visível e comum é que Nelson pode ajustar sua base de mana mais facilmente ao sacrificar a fetchland mais tarde no jogo.
Consequências do Retrocesso
Tudo é bem direto exceto o passo 2. De fato, o card que é retornado ao topo do deck é potencialmente diferente do que estava lá anteriormente. Adicionalmente, agora esse card é conhecido por Nelson.
E isto é o que muda o jogo: Nelson agora pode tomar decisões baseado neste conhecimento:
- Nelson agora vai querer manter aquele card e deixar Tarmogoyf resolver ao invés de conjurar Aprisionar?
- Neste caso as decisões estratégicas foram fortemente afetadas, e agora Antônio sabe que Nelson possui um Aprisionar em sua mão.
- Nelson ainda quer Aprisionar o Tarmogoyf, mas se sente mal porque no processo perdeu um bom card que ele possuía previamente em sua mão?
- Neste caso a mão do Nelson certamente piorou.
- Nelson quer embaralhar aquele card?
- Nesta situação a mão de Nelson potencialmente melhorou.
Comparação das duas opções.
Duas das três consequências do retrocesso realmente afetam muito o estado de jogo. A última, apesar de mais difícil de avaliar, também pode afetar. Em média, retroceder afetará a situação mais do que apenas deixa-lá como está.
Pode se argumentar que duas dessas três situações são na verdade favoráveis à Antônio e que elas “punem” Nelson por cometer um erro, mas não estamos falando sobre “punir” um jogador aqui, estamos falando sobre restaurar o estado de jogo a um estado orgânico.
Note que no Legacy esta é uma escolha mais difícil de se fazer já que Nelson poderá tirar maior proveito de uma Tempestade Cerebral mais tarde no jogo. Deixarei isso de lado já que o MIPG nunca soube lidar bem com Tempestade Cerebral, de qualquer forma.
Conclusões
Se um card tiver sido comprado desde que o erro ocorreu, o potencial para a fetchland afetar fortemente o estado de jogo é tão relevante que deixar a situação como está é geralmente mais seguro.
Caso 2: Retrocedendo através de uma fetchland já sacrificada
A situação
Natália controla Linvala, Guardiã do Silêncio. Adriano vira duas Florestas e uma Aves do Paraíso para conjurar Rastreador Incansável, que resolve. Adriano então joga e sacrifica um Urzal Ventoso, procurando por um Jardim do Templo, e coloca duas Pistas no campo de batalha. Por fim, ele passa o turno. Quando Natália desvira suas permanentes, Adriano chama o juíz e aponta que ele não poderia ter virado Aves do Paraíso para gerar mana.
Ponto de Restauração
O erro ocorreu ao conjurar Rastreador Incansável. Portanto, o ponto de restauração é logo antes de Rastreador Incansável ser conjurado.
Fazendo o retrocesso
- Natália vira seus terrenos e criaturas
- Adriano remove as duas Pistas
- Adriano retorna Jardim do Templo ao seu grimório
- Adriano retorna Urzal Ventoso à sua mão
- Adriano retorna Rastreador Incansável à sua mão
- Adriano desvira as duas Florestas e a Aves do Paraíso
Consequências de se deixar como está
Sem este erro, Adriano não poderia ter as duas Pistas no campo de batalha e, ainda que tivesse conjurado Rastreador Incansável, Natália teria um turno inteiro para lidar com ele antes das Pistas entrarem em jogo. Isso significa que potencialmente, Adriano pode comprar dois cards adicionais um turno mais cedo.
Consequências do Retrocesso
O item 3 é o único passo não direto, uma vez que envolve re-embaralhar o grimório, o que muda sua ordem.
No entanto, se o grimório estava aleatório antes da Fetchland ser ativada, isto não é um problema: Se ambos os cards do topo e do fundo eram desconhecidos antes de embaralhar, eles permanecem desconhecidos após embaralhar.
Comparação das duas opções
Nesta situação, o retrocesso parece totalmente livre de impedimentos apesar de uma Fetchland ter sido sacrificada. A principal razão é que a ativação da Fetchland não afetou o estado de jogo de forma alguma.
Por outro lado, as consequências de deixar como está são visíveis.
Conclusões
Apesar de uma Fetchland ter sido sacrificada, o fato de nenhum card ter sido comprado torna este retrocesso razoavelmente simples.
O ponto chave aqui é que quase todos os elementos pós-retrocesso continuam exatamente como eram antes: o grimório continua aleatório e todos os cards estão onde originalmente estavam. A exceção notável é que Adriano revelou alguns cards de sua mão, mas eu normalmente digo que desde que mágicas instantâneas não tenham sido reveladas, isso não é um grande problema.
Variação do Caso 2: Cards do topo ou fundo do grimório eram conhecidos pelo jogador ativo antes do sacrifício da Fetchland
No último cenário, as coisas serão um pouco mais difíceis de avaliar se o card do topo ou do fundo do grimório eram conhecidos antes de Adriano ativar a Fetchland. A questão toda se torna: o quanto re-embaralhar esse card do topo ou fundo afeta o estado de jogo?
Se o card do fundo era conhecido (provavelmente por conta de um mulligan do jogador ativo) isso não muda muito, especialmente pelo fato do jogador ter a opção de sacrificar a fetchland no turno seguinte ou ainda neste se necessário!
Mesmo se este for um card único e peça importante de um combo, a probabilidade desse card voltar ao topo ao invés do fundo são extremamente baixas: No exemplo há cerca de 50 cards restantes no grimório, então cerca de 2% de chance. Mesmo se o grimório só tiver 25 cards, a chance ainda é de apenas 4%.
Se o card do topo era conhecido, isso está afetando em 100% a próxima etapa de compra, especialmente se Adriano não jogar e sacrificar a Fetchland no fim das contas (o que é a melhor decisão se o jogador tiver outro terreno e outra mágica que não o Rastreador). É muito difícil avaliar as consequências disso de um ponto de vista puramente teórico, razão pela qual eu não seguirei nesta direção.
Kevin Desprez.