Um dos principais aspectos pelos quais existem juízes em torneios de Magic é o fato de que com a nossa presença os jogadores se sentem mais confortáveis e seguros. Eles sabem que o torneio será justo e que todos precisarão usar o melhor de suas habilidades e conhecimentos para vencer suas partidas. Mas o que acontece se um juiz, inadvertidamente, dá dicas estratégicas para um jogador durante uma partida?
O que é uma dica?
Explicar a um ou mais jogadores o resultado de uma ação futura, ou a melhor forma para uma ação, durante um jogo, é uma informação estratégica, uma dica
Basicamente uma dica é uma informação estratégica que um (ou mais) jogador(es) não tinha até aquele momento. Geralmente ele tem uma dúvida se sua jogada vai resultar em A ou em B, sendo que um destes resultados é o melhor para ele, mas ambos são válidos do ponto de vista das regras.
O problema em dar uma dica
O maior problema decorrente de darmos uma dica para um jogador é que estamos, ainda que de forma não intencional, favorecendo o mesmo, e nosso trabalho enquanto juízes não é o de favorecer nenhum jogador. Ao contrário nós devemos garantir que todos gozem das mesmas estruturas em um torneio. Isso se torna ainda mais importante em torneios de REL Competitivo onde os jogadores estão disputando grandes premiações, vagas em torneios maiores e podem ter viajado grandes distâncias para participar destes torneios.
Identificando pedidos de dicas
Muitas vezes nem mesmo os próprios jogadores sabem que estão pedindo uma dica. Para muitos deles o jogo não tem uma divisão clara entre as regras e suas “play skills” – a coisa é uma só e bastante orgânica. Quando eles nos chamam nestas situações muitos deles acreditam que possuem uma dúvida relacionada pura e simplesmente com regras e é por isso que precisamos compreender a situação e identificar e saber lidar com este tipo de chamado.
Via de regra quando um jogador faz uma pergunta utilizando a conjunção se ele está pedindo uma dica
Vejamos a seguinte situação: Anakin controla uma Pharika, God of Affliction que acabou de atingir devoção 7. Nora levanta a mão e chama o juiz, você chega até a mesa e ela pergunta: “Se eu der dois Bile Blight na Pharika ela morre?”
A princípio essa dúvida é bastante simples do ponto de vista de regras, sabemos que uma criatura que tenha resistência 0 ou menos é colocada no cemitério de seu dono como resultado de uma SBA, mesmo que ela seja indestrutível. Mas se analisarmos melhor e pensarmos melhor Nora não está nos fazendo uma pergunta pura e simplesmente envolvendo regras, ela quer um conselho sobre uma jogada. Dado que sendo uma criatura a Pharika é um alvo válido para Bile Blight e não existe nenhuma ilegalidade na jogada o que Nora está pedindo é de fato uma dica.
Quando um jogador faz uma pergunta sobre uma ação futura que pode ter um ou mais resultados onde nenhum deles é ilegal possivelmente uma dica está sendo pedida
Uma segunda situação: Anakin controla um Athreos, God of Passage e ataca com sua Mutavault. Antes de declarar bloqueadores Nora chama o juiz, você chega até a mesa e ela pergunta: “Se a Mutavault morrer eu vou ter que pagar 3?”
Neste caso novamente vemos a conjunção se. Além disso podemos perceber que a pergunta se refere a algo no futuro, que Nora não decidiu fazer e quer uma resposta sua para decidir. Isso por si só já configura que uma dica está sendo pedida.
E nesta situação? Anakin chama o juiz e quando você se aproxima da mesa e pergunta: “Se eu tenho uma criatura com Flash/Lampejo. Posso conjurá-la a qualquer momento?”
Embora neste caso ele use a conjunção se e esteja perguntando sobre algo que ainda não fez a pergunta dele é estritamente sobre como funciona a habilidade estática Flash, e podemos responder sem medo 🙂
Respondendo aos pedidos de dicas
Nestas situações precisamos agir com cautela, calma e diplomacia. O jogador não tem ciência de que está pedindo um dica, por isso precisamos dessa calma para explicar da melhor maneira possível que não podemos responder àquele tipo de pergunta.
A forma mais simples para resolver essa situação é ajudar o jogador a compreender a natureza daquela dúvida, em alguns casos basta explicar que o que ele pede é uma dica estratégica e não poderemos responder: “Nora, o que você está perguntando não é uma dúvida sobre as regras, você quer uma informação sobre uma jogada e não posso responder a isso.”
Para deixar o jogador mais confortável é sempre bom explicar logo em seguida como você pode ajudá-lo: “Se você puder reformular sua pergunta de forma que ela seja uma dúvida relacionada a regras eu poderei responder.”
Com isso o jogador geralmente acaba compreender a natureza da pergunta que foi feita. Ele percebe que a jogada não envolve nada ilegal e tenta reformular a questão.
Uma outra forma muito boa para lidar com estas situações é ler as cartas junto com os jogadores. Eu geralmente pego a carta e a leio. Então eu digo aos jogadores: “Bem, vamos ver o que a carta diz…” dando a carta para que eles possam ler. Lendo a carta calmamente dá aos jogadores a oportunidade de pensar no que a carta realmente faz e o que a carta não pode fazer, ou mesmo a oportunidade de pensar se a jogada em que está pensando é boa ou não.
Algumas vezes no entanto eles não vão conseguir fazer a pergunta de uma forma satisfatória, nestes casos infelizmente não poderemos ajudar. E é aí que precisamos ajudá-los.
Transformando pedidos de dicas em pedidos de regras
Vamos analisar as perguntas feitas por Nora e transformá-las em perguntas sobre regras:
Dica
Anakin controla uma Pharika, God of Affliction que acabou de atingir devoção 7. Nora levanta a mão e chama o juiz, você chega até a mesa e ela pergunta: “Se eu der dois Bile Blight na Pharika ela morre?”
Regra
pergunta: “O que acontece com uma criatura que tem resistência 0 ou menos?” ou ainda “Uma criatura com resistência 0 ou menos é destruída?”
Podemos perceber que neste caso embora a pergunta envolva uma situação de jogo ela é sobre uma regra. A jogadora claramente quer saber o que acontece com criaturas com resistência 0 ou menor. Neste caso podemos explicar que elas são colocadas no cemitério de seus donos como resultado de uma SBA.
A mudança da pergunta pode parecer sutil mas inicialmente a pergunta era sobre uma possível jogada X. Já a segunda, ainda que vá resultar da mesma jogada X, é sobre uma regra do jogo.
Dica
Anakin controla um Athreos, God of Passage e ataca com sua Mutavault. Antes de declarar bloqueadores Nora chama o juiz, você chega até a mesa e ela pergunta: “Se a Mutavault morrer eu vou ter que pagar 3?”
Regra
“A habilidade do Athreos desencadeia do campo ou do cemitério?” ou ainda “Quando uma manland morre ela é uma criatura?”
Para este cenário é necessário que o jogador possua um conhecimento um pouco maior sobre como as regras funcionam para realmente perguntar o que ele deseja. Muitos jogadores não sabem que habilidades como a do Athreos desencadeiam do campo de batalha, onde mutavault ainda seria uma criatura.
Conclusão
É quase natural para nós responder dúvidas e explicarmos as regras envolvidas, sempre. É para isso que estudamos e é nisso que sempre buscamos ficar melhores. No entanto em algumas situações simplesmente responder a uma pergunta pode causar um desconforto em um torneio, principalmente naquele de REL Competitivo.
Lembre-se sempre de ser cordial com os jogadores e tente ajudá-los ao máximo. Tente induzir o jogador a te perguntar algo, sem que com isso você ofereça vantagens para ele durante aquele jogo.
Não pare simplesmente de responder dúvidas e atender chamados: um bom serviço ao consumidor será aquele onde formos capazes de ajudar os jogadores a nos ajudarem.
E vocês? Têm alguma situação de dica que já responderam? Têm alguma situação que identificaram que era um pedido de dica e não puderam responder? Comentem!