Escrevendo bons Reviews: presentes para juízes


Vinicius Quaiato, Nível 2
Um dos top 10 escritores de review no Brasil


Vinicius Quaiato, Nível 2
Um dos top 10 escritores de review no Brasil

Escrever reviews (ou avaliações) é uma das atividades mais importante para o crescimento de nossos pares dentro do Programa. Reviews não substituem uma boa sessão de feedbacks, mas as complementam, servem como um registro permanente, ao qual a pessoa pode sempre consultar no futuro, de forma que tenha como guiar seu desenvolvimento. Um dos maiores presentes que podemos dar para alguém dentro do Programa é este review, que vai possibilitar que esta pessoa aprenda, cresça e compreenda melhor suas fraquezas, pontos fortes e oportunidades de melhoria.

Ainda que existam muitos artigos sobre reviews dentro do Programa, se o assunto é tão importante, por que não mais um?

Quem pode escrever um review?

A primeira coisa que você pode estar se perguntando é: quem pode escrever reviews? Basicamente qualquer pessoa. Seja certificado ou não. Todo juiz e toda juíza pode escrever e receber reviews, bem como alguém que seja Nível 0. Você não precisa ter um nível específico para fazê-lo, e você não precisa fazer reviews apenas para quem está no mesmo nível que você, ou um nível abaixo. Todos nós no Programa necessitamos de feedbacks e mais informações sobre nossa performance e desempenho. Eu tenho certeza que todo juiz Nível 2 e Nível 3 adoraria receber reviews de juízes e juízas Nível 1 com os quais tem trabalhado juntos.

Não é esperado, enquanto definição de nível, que juízes e juízas no Nível 1 façam reviews. Porém, o fato de não ser esperado não é uma negativa, nem é uma restrição. Se você está no Nível 1, tem trabalhado com outros juízes, faça reviews! Pratique. E também cobre reviews dos outros juízes que tem trabalhado com você.

Do que consiste um review?

Um review deve funcionar como uma ferramenta, ou instrumento. Através de um review deve ser possível aprender algo – talvez para que possamos corrigir uma falha, ou perceber alguma dificuldade específica que tenhamos.

Um review não deve, de forma alguma, ser utilizado como uma forma de ataque pessoal. Ao contrário, ainda que o review aponte deficiências (e ele geralmente aponta), ele deve mostrá-las de forma clara, sóbria e sem agressividade. Lembre-se: um review é um presente que entregamos para o crescimento de nossos pares, e sendo um presente, a pessoa que o recebe deve ficar contente ao recebê-lo.

Além de apontar deficiências, um bom review oferece:

  1. Formas de identificar as deficiências
  2. Formas de superá-las

É muito importante nos certificarmos de oferecer estas duas informações nos reviews que escrevemos. E isso não é complicado de ser feito, vejamos um simples exemplo abaixo:

Ned, você parecia cansado no evento, isso não é bom.

Ainda que tenhamos apontado um problema que Ned precisa trabalhar, nosso review não mostra para Ned como é que percebemos isso, tampouco mostra para Ned maneiras de trabalhar isso. Vamos tentar reescrever a mesma coisa, dando a Ned mais insumos para trabalhar:

Ned, durante a Rodada 4 do torneio você parecia cansado. Sempre que você se sentir assim, tire uma folga. Converse com o Juiz Mor e/ou com seu Líder de Equipe e peça uns 30 minutos para descansar, com isso você vai se sentir melhor.

A diferença aqui é sutil. Primeiro informamos claramente para Ned em que momento percebemos o problema. Assim Ned pode se lembrar de algo específico que tenha acontecido, e isso dá contexto para que Ned trabalhe. Além disso estamos oferecendo uma solução para a questão, estamos propondo algo que Ned pode fazer caso isso volte a acontecer, permitindo que ele aprenda e possivelmente não passe novamente por esta situação.

Essa mudança, apesar de simples, requer que nós, enquanto pessoas dispostas a escrever reviews, façamos algumas coisas.

Observações e notas – a matéria prima

Escrever bons reviews, que signifiquem algo para quem os recebe, requer de nós um trabalho mais ativo e empático. Precisamos não apenas observar como nossos pares entregam regras, aplicam penalidades, ou cumprem as tarefas do torneio. Precisamos nos colocar em uma atitude que realmente busque ajudar outros juízes e juízas a crescer e melhorar. Isto significa que estaremos sempre buscando maneira de ajudá-los.

Não existe uma forma simples, ou mágica, de entrarmos neste “estado espírito”. Precisamos nos ensinar a fazer isso, nos acostumar com isso. Um bom primeiro passo é entender que colaborar com os outros é algo bom e importante. Tendo isso em mente, com o tempo, vamos passar a desenvolver este estado naturalmente. De forma mais prática, uma coisa extremamente importante para quem deseja escrever reviews é: tomar notas!

compilado

Tomar notas durante um torneio é algo fundamental. É muito difícil confiarmos apenas em nossa memória, ela pode simplesmente esquecer de pequenos detalhes, que no final podem fazer muita diferença. Se você tiver notas, se tiver tudo escrito, ficará muito mais simples transformas as notas em um bom review.

Eu costumo fazer uma média de 3 reviews por Grand Prix, e algo entre 1~3 para outros torneios (dependendo do tamanho e tipo do torneio). Porém eu não consigo fazer todos estes reviews no dia do torneio. Na verdade é impossível conseguir isso, por diversos motivos, que vão de cansaço a viagens de 10h com trabalho no dia seguinte. Então a primeira coisa que eu pego ao ir para um torneio é meu bloquinho de notas.

Blocos de anotações para torneios

Ter um bloquinho de notas no bolso nos garante uma série de coisas, não apenas relacionadas a reviews. Anotarmos instruções e informações que nos foram passadas durante o torneio, por juízes ou jogadores, é um hábito que após adquirido só nos traz benefícios.

Anatomia de uma nota

No geral eu costumo fazer diversas anotações ao longo de um torneio. A profundidade destas anotações vai depender um pouco do seu papel durante o torneio. Via de regra eu faço uma pequena nota, com um sinal + (algo positivo) ou – (algo a ser melhorado) e escrevo uma pequena sentença que me permita lembrar de algum fato ocorrido. Assim que eu conseguir um tempo disponível naquele torneio, eu passo a elaborar um pouco mais a pequena nota, ou caso ela por si só já seja algo completo, eu mantenho como está. Com o passar do tempo eu percebi que usar esses sinais + e – funcionavam também como um termômetro. Se eu perceber que minhas notas estão cheias de sinais – isto significa que eu estou sendo muito crítico, e possivelmente não esteja fazendo boas observações.

Ao final de um dia de trabalho (ou ao final de um torneio) eu analiso minhas notas e vejo se tenho material para realizar algum review. Isso é importante pois nem sempre as notas resultam em um review bom e completo. Mas certamente ter notas incompletas é melhor do que não ter nada!

Notas simples, pequenos lembretes
Notas simples, pequenos lembretes
Notas elaboradas, mais próximas de um review
Notas elaboradas, mais próximas de um review

Dependente da ocasião eu opto por um tipo de anotação ou outro. No caso das notas simples, acima, eu estava no Day 1 de um GP. No caso das notas mais elaboradas, eu estava em uma equipe de WMCQ.

Tomando boas notas

Este aspecto é bastante importante, e é parte fundamental do processo de escrita de um review. É muito fácil, por vezes, nos atermos apenas a aspectos negativos ao observar alguém. No entanto, é praticamente impossível que uma pessoa não tenha nada para nos ensinar, ou que não tenha nada que tenha feito bem. Se não estamos encontrando nenhum ponto positivo na atuação de alguém, é provável que estejamos sendo exigentes demais, em um nível que não é saudável. Pode ser possível também que estejamos olhando para esta pessoa apenas procurando aspectos negativos (e esta pode ser uma falha nossa, e não da pessoa), e isto também não é saudável.

Quando observamos alguém devemos sempre estar abertos para: 1) enxergar o melhor e 2) ensinar algo.

Vamos imaginar o seguinte cenário: Você está apitando um GPT junto com Maria. Ao atender uma mesa, Maria conversa bastante com os dois jogadores, porém acaba explicando uma regra de maneira equivocada. Você chama Maria e explica que ela estava equivocada. Ela retorna à mesa, explica a situação para os jogadores corrigindo seu erro, ambos agradecem, sorriem, e continuam seu jogo.

Neste exemplo poderíamos avaliar Maria como não sabendo as regras, ou não tendo se preparado bem para o torneio. E isso pode ser verdade. Mas também é possível que não tenhamos observado bem a situação. Ainda que Maria tenha explicado algo de forma incorreta, nenhum dos jogadores ficou frustrado, nem alterou seu temperamento, ao contrário, ambos sorriram, agradeceram, e continuaram a jogar. Isso indica que embora Maria possa melhorar em seu preparo, ela tem uma excelente forma de conversar com jogadores, mesmo quando ela comete um erro. Esta é uma excelente qualidade, digna de nota!

Eu posso dizer com segurança que sempre temos algo a aprender, ainda que tenhamos algo a ensinar. Precisamos estar abertos para isso.

Compilando e presenteando

Agora que já temos nossas anotações, é chegado o momento de sentarmos e presentearmos nosso pares. Se você ainda não sabe como fazer isso no Judge Center, leia aqui este Guia Ilustrado, eu espero.

Agora é o momento em que precisamos separar nossas notas – tanto as que mencionam pontos fortes, quanto as que mencionam pontos a melhorar. Se tivermos boas anotações, escrever o review vai ser tão simples quanto passar as informações que juntamos para o Judge Center. Como visto no artigo acima, escrito pelo Nicolau Maldonado, a própria ferramenta de reviews nos dá campos para falarmos dos pontos fortes de uma pessoa, e outro para falarmos dos pontos a melhorar. Lembre-se sempre do objetivo do review, que é dar um presente para a evolução e crescimento de outra pessoa. Faça isso com calma, atenção e procure reler e conferir o que você escreveu. Questione-se se você gostaria de receber um review da forma como está escrita. Lembre-se que existem diferentes maneiras de transmitir uma mesma mensagem.

Conclusão

Escrever boas avaliações requerem prática, então precisamos praticar. Quanto mais o fizermos, mais natural e confortável será este processo de presentear através de reviews. Muitas vezes um simples feedback é tudo que alguém precisa. Reviews não precisam ser longos, nem muito elaborados (a menos que você queira, é claro). Se você não tem o hábito de escrever reviews, comece, de forma simples. Você pode inclusive escrever um review para você, falando sobre sua habilidade em escrever reviews 😉

Aqui você encontra o primeiro review de diversos juízes e juízas: My first review
Neste blog temos muitas informações sobre: Feedback Loop

Além disso você pode entrar em contato com alguns juízes que tem levado o assunto de reviews bastante a sério: Nicolau Maldonado, Antônio Zanutto e Vinicius Quaiato

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