A triplice viagem – Parte 1.0

Nesse mês de Fevereiro eu fiz um combo de GPs: Pittsburgh, Vancouver e Utrecht. Vou contar um pouco da minha experiência, colocando também sobre a viagem e as cidades que visitei.

Faça o que eu digo, não faça o que eu faço

Eu decidi que seria uma boa ideia fazer as três viagens seguidas (sem voltar pra casa no meio tempo) – e realmente foi uma boa ideia. Então eu procurei por passagens aéreas baratas e que me levassem para esses locais nas datas que eu precisasse. Coisa interessante de reserva de passagens: um vôo de ida de GRU (Guarulhos) para PIT (Pittsburgh) com volta de AMS (Amsterdam) para GRU, junto com voos de conexão e para os outros destinos que eu precisava ir, custava mais de dez mil reais (nada barato). No entanto, um vôo de ida e volta GRU/AMS + um voo de AMS a PIT, PIT a YVR (Vancouver) e YVR a AMS custou tudo por volta de 4500 reais. Voos internacionais cuja ida e volta são por paises diferentes, costumam ser muito mais caros.

Saio de Campinas as 10 da manhã para meu vôo que é as 17. Chego as 12 com muito tempo de sobra (lembre-se disso: chegue sempre 3 horas antes da partida do seu vôo para qualquer viagem internacional). Espero em Guarulhos, embarco para meu vôo para Amsterdam, assisto uns filmes, leio Harry Potter, durmo.

Pois bem, tudo lindo, exceto que o cachinhos aqui decidiu que seria uma boa ideia ter uma conexão de apenas duas horas em AMS (meu voo chegava as 10 da manhã de Londres e saia ao meio dia para Philadelphia). Lembre-se disso: 2 horas de conexão não é um tempo razoável para uma conexão internacional, principalmente se você precisa fazer imigração, recolher suas malas e refazer o check-in delas.

Mas entre mortos e feridos, todos se salvaram. Tudo deu errado, e depois tudo deu certo. Eu cheguei no aeroporto de AMS e as máquinas da imigração estavam quebradas, a fila estava gigantesca. Sai correndo para pegar minhas malas, mas elas não saiam pela esteira. Chamei o responsável pelas malas e pedi pra ele que transferisse minhas malas para o próximo voo, dou minhas informações e lá vou eu correndo. Chego no balcão da American Airlines para fazer o check in e eles estão fechando, converso com a moça, consigo fazer o check in e peço pra ela entrar em contato com o responsável pelas malas que iria fazer a transferência. Vou embarcar e eles acham que eu sou um terrorista porque eu fui a última pessoa a fazer check in. Eles pedem pra eu ficar sentado e não deixam nem eu beber água. Depois de conferirem que eu não era um terrorista, eles me tratam bem, me trazem água e me deixam embarcar.

 

Carvalho, que frio!

Pittsburgh estava nevando, estava muito frio, muito mesmo. Ao contrário do que todos pensam, neve não é algo fofinho com uma textura agradável, neve é aquela raspinha de gelo que acumula no congelador. Protetores labiais e cremes hidratantes para o corpo são seus amigos 😉

 

Vancouver

Vancouver é uma cidade linda, praia, montanhas, parques, atrações turisticas, tem de tudo. É uma cidade que eu já fui três vezes e não explorei nem um décimo do que eu gostaria de explorar. O metro quadrado é bem caro, esteja preparado para gastar pelo menos 100 reais por dia de hotel. A comida está no preço médio, com 30 reais você almoça bem em um restaurante ok. Se você quiser barato, tem Subway, Burger King e McDonnalds.

 

Sexta Feira

Eu trabalhei pouquinho, foram só 16 horas de trabalho; começando as 7 da manhã e terminando as 11 da noite. Eu me voluntariei para trabalhar na equipe de preparação para o torneio junto com o shift normal de juiz. Já adianto, isso não foi uma escolha saudável, por mais divertido que seja trabalhar como juiz, trabalhar por 16 horas seguidas é exaustivo e eu não recomendaria isso para um juiz de primeira viagem, e nem para um juiz com mais experiência.

 

Seja Flexível

Eu trabalhei em várias coisas diferentes durante a sexta; das 7 as 8 eu trabalhei montando painéis e movendo eles de lugar, das 8 as 9, trabalhei colocando números de mesa pelo salão, das 9 as 10, controlei os portões do céu, er, do torneio. Centenas de jogadores ansiosos para entrar e eu era a única barreira entre eles e o salão. Dica: tome muita água e faça exercícios de projeção de voz, isso ajuda muito se seu nome não é Eduardo Beraldo. Ah, e distraia os jogadores (diga para eles preencherem listas ou fique fazendo quizzes de regras), isso ajuda a diminuir a ansiedade. Das 10 as 11 eu preparei produto (as leis do Canadá proíbem que eventos tenham um valor de inscrição sem uma premiação garantida, então todos os jogadores ganham boosters só de inscrever nos torneios).

 

[expand title=”Distribuição de Produtos – Bônus”]

Vou expandir um pouco nesse tópico: em GPs sempre temos que lidar com a distribuição de material (playmat, promos e boosters) e a coleta de listas. A logística disso depende de três fatores: proporção juiz/jogador, material que está sendo distribuído e também o que cada jogador recebe.

Proporção juiz/jogador: Minha experiência me diz que as caixas que contém playmats vem com 50 unidades (entre 10 a 15 Kg de playmats), um juiz carregar uma caixa de playmats parece ok, mas mais do que isso, vai exigir muito esforço fisico ou deixar a caixa de playmat embaixo da mesa ou em algum outro lugar, dificultando a distribuição. Em torneios aonde temos menos de 1 juiz a cada 50 jogadores na hora da distribuição do material, o melhor método seria de distribuir cupons que podem ser trocados por playmats na Prize Wall, ou alternativamente, deixar uma lista na prize wall com os jogadores que tem um playmat para receber. Em torneios aonde temos 1 ou mais juízes a cada 50 jogadores, é razoável que a distribuição aconteça durante a “player meeting”.

Mas qual a vantagem de entregar tudo durante a player meeting? Assim não sobrecarregamos a Prize Wall ou não precisamos alocar um outro espaço para fazer a distribuição do produto. Além do mais, aquelas pessoas que ficariam alocadas trabalhando naquilo, podem realizar outra atividade.

Material distribuído: No GP Vancouver, por exemplo, pelo fato de os jogadores receberem playmats e boosters e a logística de entregar esse material para os jogadores durante a player meeting requer um número considerável de juízes, nós montamos uma estação de distribuição de material (similar a solução descrita acima) aonde os jogadores recebiam vouchers na player meeting que poderiam ser trocados nessa estação por playmats e boosters.

O que cada jogador recebe: é tradição no Brasil de termos inscrições com playmats e inscrições sem playmats. Como podemos distribuir os playmats para os jogadores? Pedir para os juízes passarem pelas mesas checando qual o tipo de inscrição do jogador parece uma má ideia. Nós podemos fazer como mencionado acima e pedir para os jogadores pegarem os playmats em alguma estação de distribuição ou também podemos sentar os jogadores em duas zonas diferentes, uma zona para os que devem receber playmats e outra para os que não receberão playmats.

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Depois disso eu fui trabalhar nos Last Chance Trials (GPTs), a cada 32 jogadores, nós começavamos um torneio novo. O processo que estava implementado era bem ruim; juízes eram atribuídos para os GPTs e ali ficavam, exceto que, esses juízes que já tinham eventos rodando, tinham que começar novos GPTs. Parte do problema é que não existiam fichas de resultados, então os jogadores chamavam o juiz do evento para relatar o resultado. Imagine um juiz tomando conta de 3 ou 4 eventos diferentes, tendo que atender mesas, começar torneios, fazer anúncios, marcar resultados e procedimentos de final da rodada. Isso gerava muita confusão e era ineficiente.

 

Ps: eu recomendo fortemente que você leia o relato do Vinicius Quaiato sobre o GP Vancouver.

 

[expand title=”Relato do Quaiato – Bônus”]

 

Sexta-Feira
Não trabalhei na sexta, que é um dia que oferece grandes desafios. Pelo que vi (indo até a venue) e ouvi (das pessoas que trabalharam na sexta) foi um dia bem corrido e caótico. Quando eu cheguei na Venue vi que o pessoal que estava rodando os trials estava bem atolado, acho que teria sido benéfico para eles lerem meu report sobre como rodei os trials em Madrid, pois pelo que pude observar teria aliviado muito a carga. Resumindo o processo de trials que rodei em Madrid:
Processo otimizado para execução de Trials
  1. Ter 1 ou 2 pessoas que sabem iniciar os trials – já tem os avisos iniciais na ponta da língua, sabem explicar as rodadas, pairings boards, e sabem explicar aonde conseguir informações
  2. Todos os outros juízes ficam no floor na área de trials, atendendo chamados
  3. Uma mesa grande com as folhas de resultados de todos os trials, numeradas de forma bem visível
  4. Jogadores preenchem o nome do vencedor na folha de resultados (uma folha de brackets até chegar ao top 8)
  5. Um time de 2 juízes responsáveis por todos os top 8 de trials
  6. Uma área sinalizada como “Área do TOP 8”
Por que esse processo é bom? Bem simples: quando o processo é diferente, os juízes acabam acumulando trials. Então é comum que um único juiz tenha 3~6 trials em suas mãos, em regiões distintas do salão. Os jogadores precisam chamar o juiz (levantar a mão e grita “Juiz!”) para passar o resultado de uma partida (trials não tem slips). Agora imaginem que o juiz daquele trial está atendendo um chamado em outro local, então outro juiz vem até essa mesa e descobre que não é uma dúvida, os jogadores apenas querem passar o resultado, ou seja ele é inútil ali pois apenas o juiz daquele trial pode ajudar.
Quando os resultados são passados diretamente na “mesa de resultados” os juízes no salão atendem dúvidas ao invés de correr atrás de anotar resultados. Além disso os jogadores contam com um processo mais previsível, pois eles sabem sempre aonde reportar resultados. O líder dos trials pode monitorar as folhas de resultados e verificar quando uma rodada acabou ou um torneio acabou, e passar isso para o time do Top 8 ou apenas anunciar a próxima rodada. Desta forma nenhum juiz fica sobrecarregado e as coisas começam a fluir independente de quem iniciou aquele torneio.
O mais interessante de não ter trabalhado na sexta foi poder observar pontos de melhoria mesmo sem estar arbitrando. É um exercício que eu venho tentado fazer nos últimos tempos.

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Sábado

No Sábado eu fui lider de Eventos Sob Demanda (On Demand Events – ODEs). Commander e drafts eram os torneios com mais procura, com um torneio acontecendo a cada 5 minutos, praticamente. As bancadas alocadas para ODEs tinham 6 lugares (6 mesas), o que cabia um draft e um commander. No começo do dia, as áreas não estavam numeradas e nós tínhamos bastante espaço, então sempre quando iamos começar um novo torneio, se era um commander colocávamos do lado direito da bancada, se era um draft colocavamos no lado esquerdo.

No entanto, a necessidade de espaço cresceu durante o dia, chegou um momento aonde não tinhamos mais aonde colocar jogadores. A minha solução foi instruir a minha equipe a alocar espaço dinâmicamente (go Computer Science!); nós numeramos as mesas (A-Z, 1-6) e pediamos para os jogadores sentarem em mesas diferentes conforme forem terminando as suas rodadas. Por exemplo; suponha que dois drafts comecem ao mesmo tempo nas mesas A1-4 e B1-4. Depois de uma hora (após acabar o draft e a primeira rodada), as mesas A3-4 e B3-4 estarão livres, mas não podemos começar um novo draft ali porque só temos 2 mesas disponíveis. O que fizemos então era pedir que os jogadores das mesas B1-2 (semifinais do draft) se movessem para as mesas A3-4, assim pudemos começar um novo torneio ali.

A vantagem disso é que podemos fazer mais torneios, nós estamos utilizando melhor o espaço. As desvantagens é que os jogadores se perdem (porque eles estão acostumados a jogar sempre nas mesmas mesas) e eles também ficam com menos espaço para se espalhar.

 

Domingo

Fui chamado para trabalhar de sopetão. Me colocaram para ajudar em um torneio Modern competitivo com 150 jogadores.

Durante a terceira rodada do torneio, eu estou distribuindo as fichas de resultado e vejo dois amigos se encontrando para jogar em uma mesa e acabo escutando eles conversarem.

A – “ah que droga, não queria jogar com você.”

B – “Vamos empatar então.”

A – “Beleza.”

B – “Mas pera, eu acho que um empate é ruim pra gente.”

Alguns segundos de silêncio…

C – “Ei, vocês não deviam fazer isso”

Eu viro para olhar o que estava acontecendo e os dois estão com o braço para cima, como quem vai jogar jo-ken-pô.

Vendo que o erro já foi cometido e não há mais como prevenir, eu peço para os jogadores esperarem enquanto eu chamo o juiz mor.

Na última rodada do suiço, eu fui fazer deckcheck em uma mesa, e o que era uma Perda de Jogo acabou se tornando uma desclassificação. Uma jogadora, depois que eu avisei do deckcheck, notou um problema em sua reserva e tentou corrigir para evitar uma penalidade, eu conversei com ela e decidi chamar o Juiz Mor porque ela estava tentando trapacear.

 

Aguardem pelas partes 1.5 e 2.0 😉

 

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