Vamos splitar? Consequências e limites do ID, Split e Concessões

Escrito por Matheus Sobral
Nível 1 – Niterói, RJ

Escrito por Matheus Sobral
Nível 1 – Niterói, RJ

Se você joga ou atua como juiz em torneios de Magic, seja na loja da sua cidade, ou percorre o circuito de todos os pptq’s do seu estado, com certeza já ouviu e vivenciou o tema deste artigo.

Aqui na minha cidade, Niterói-RJ, o tema tem sido bastante discutido e, frequentemente, os jogadores me perguntam como isso tudo funciona, os seus limites e as eventuais infrações que podem ser cometidas, veremos caso a caso o que as regras nos orientam e como devemos nos portar sejam em torneios REL Regular ou Competitivo.

 

EMPATE INTENCIONAL (ID)

O que isso quer dizer? Essa é simples. Acontece quando dois jogadores não querem jogar e concordam em empatar um jogo ou partida.

Mas porque alguém iria querer fazer isso em um torneio que geralmente paga-se uma inscrição para jogar? Normalmente isso acontece quando beneficia os dois jogadores e não é difícil imaginar este cenário: pense em um PPTQ com corte para top 8 em que na última rodada só dois jogadores estão com 12 pontos e todos os outros tem 9 pontos ou menos, se esses dois jogadores derem ID já estarão automaticamente no TOP 8, podendo descansar durante a última rodada ou ficar analisando os jogos nas outras mesas para saber o que virá pela frente.

Entretanto, este não é o único motivo, dois jogadores podem ser amigos e não quererem se enfrentar ou estarem cansados. Dentre quaisquer motivos, o que devemos saber é: você sempre pode, a qualquer momento, desde que de comum acordo e sem violar nenhuma regra (abordarei isso abaixo), empatar um jogo ou partida intencionalmente e isto está expresso na MTR 2.4 (Regras de Torneio de Magic):

“Se um jogo ou partida não tiver terminado, os jogadores podem conceder ou decidir empatar aquele jogo ou partida.”

Ao reportar o resultado de um Empate Intencional em que nenhum jogo tenha sido jogado, ele deve ser escrito como 0-0-3 ou 0-0 (no WER). Caso um jogo já tenha sido completado antes da decisão do empate, ele deve ser reportado.

 

CONCESSÕES

Quando você concede durante um torneio, seu oponente estará vencendo por desistência. Qualquer jogador pode conceder durante um jogo, e isto ocorre imediatamente. Quando isso acontece o jogo termina e os jogadores começam um outro logo em seguida, a não ser que o limite de jogos da rodada tenha se esgotado (geralmente duas vitórias). É importante lembrar que os jogadores costumam conceder para poder sair do torneio, o famoso drop, e isso deve ser comunicado ao scorekeeper ou Juiz do torneio para que problemas de jogadores perdidos sejam evitados.

É importante ressaltar que, quando você concede, deve informar na slip ou ao scorekeeper, os jogos que efetivamente terminaram, se a partida estava 1-1 e você conceder, o resultado deve ser informado como 2-1 e não como 2-0.

Outro detalhe, é que se o tempo estiver acabando e o jogo empatado, os jogadores podem conversar sobre conceder a partida. Os limites dessas conversas serão abordados com maior profundidade abaixo.

 

 LINHA TÊNUE: CONCESSÕES TÊM LIMITES

Como juízes e jogadores, é saudável lembrar que um jogo de Magic deve ser disputado jogando uma partida real e que concessões, embora permitidas, devem ser exceções e têm limites.

O fundamental que devemos saber é que não pode ser oferecido nenhum tipo de incentivo para que uma concessão aconteça,  pois isso configura suborno, e se o jogador que teve o incentivo oferecido não chamar um juiz imediatamente receberá mesma penalidade: a desqualificação (DQ) do torneio, como instrui o MTR 5.2 (Regras de Torneio de Magic) e o IPG 4.4 (Guia de Procedimentos de Infração):

A decisão de se retirar, conceder ou aceitar um empate intencional não pode ser feita em troca ou influenciada por uma oferta de qualquer recompensa ou incentivo nem qualquer decisão tomada em jogo deve ser influenciada dessa maneira. Fazer essa oferta é proibido e é considerado suborno. MTR 5.2

Um jogador oferece um incentivo para que seu oponente conceda, empate, ou mude o resultado da partida, ou aceita uma dessas ofertas.

Penalidade: Desclassificação

Um jogador que recebe uma proposta e não chama imediatamente um oficial do torneio é considerado cúmplice da proposta e receberá a mesma penalidade. IPG 4.4

Outro ponto importante a ser abordado é que os jogadores não podem utilizar métodos de fora do jogo para determinar quem será o vencedor da partida. Essa política existe para reafirmar que as partidas de Magic devem ser decididas jogando Magic de fato. Funciona como uma forma de afastar o jogo de interpretações que o classificariam como jogo de azar, ao mesmo tempo que reafirmam a visão do Magic como um jogo de habilidade e estratégia.

Pode parecer complicado identificar quando essas infrações acontecem, mas na prática costuma ser simples detectar quando estamos diante de uma, pois são aqueles clássicos casos de quando um ou ambos jogadores querem decidir quem vai ganhar a partida jogando uma moeda ou rolando dados. Essa conduta acaba causando a desclassificação dos jogadores envolvidos por se enquadrar na infração “Determinar um Vencedor de Forma Imprópria” prevista no IPG 4.3:

Um jogador usa ou oferece o uso de um meio que não faz parte do jogo atual (incluindo ações ilegais no jogo atual para determinar o resultado de um jogo ou partida) para determinar o resultado de um jogo ou partida.

Penalidade: Desclassificação

Um jogador que recebe uma proposta e não chama imediatamente um oficial do torneio é considerado cúmplice da proposta e receberá a mesma penalidade. IPG 4.3

Contudo, recentemente aconteceu um caso peculiar no Pro Tour Ixalan, onde um jogador ao final da partida que estava empatada mencionou que precisava de uma carta específica para ganhar e foi revelando o topo do seu deck para decidir se concederia a partida ou não, de acordo com a posição da carta no grimório. Isso demonstra ser importante estar atento ao que é permitido aos jogadores discutirem para decidir sobre uma concessão, por exemplo, eles podem conversar sobre os recursos disponíveis que tenham acesso até aquele momento, como mostrar as suas cartas que estão na mão, o cemitério ou o campo de batalha, mas nunca sobre cartas desconhecidas, como as cartas que seriam compradas no turno seguinte, o que é considerado como uma maneira imprópria de determinar um vencedor, como determina o IPG 4.3.

Se ficou curioso sobre esse caso específico, pode dar uma olhada no informe do caso abordado aqui: https://goo.gl/xXG1k9.

 

SPLIT: DIVIDIR A PREMIAÇÃO

O tema mais controverso até aqui, dividir a premiação, pode ou não? Bem, a regra diz que quaisquer jogadores podem dividir a premiação futura como quiserem. Normalmente, dividem pela metade, independente do resultado ou classificação de ambos os jogadores. Os jogadores podem tomar essa decisão, inclusive, para obter o maior benefício disto, já que diminui o risco de não ganhar um prêmio para os jogadores envolvidos no split.

O grande detalhe chega agora: os jogadores não podem concordar nos resultados (concessão ou empate) associando esta decisão com a divisão dos prêmios (split). As decisões devem ser feitas independentemente, de forma que nenhuma é influenciada pela outra. Caso isso aconteça, se enquadra na hipótese de bribery transcrita acima — IPG 4.4 (Guia de Procedimentos de Infração) culminando na desclassificação e possível suspensão de um ou todos jogadores envolvidos.

Tudo bem, já entendi. Mas como ter certeza na hora que o que quero propor ao oponente não será considerado uma infração? Simples de resolver, chame o juiz do torneio e peça para falar com ele longe do seu oponente, a partir daí ele irá te dizer se isso é ou não permitido. Se um jogador chama o juiz na frente do oponente e pergunta sobre o que quer oferecer, fatalmente será considerada uma tentativa de influência ao oponente, tornando aplicável a penalidade de desqualificação por Bribery.

E nos torneios eliminatórios, mata-mata, ainda assim pode haver split? Sim, depois de anunciados os finalistas, os jogadores podem dividir o prêmio igualmente, mas, apenas os prêmios deste torneio, todos os jogadores devem concordar com a divisão e apenas se os prêmios do torneio forem: dinheiro, créditos na loja, tickets de premiação e/ou produtos lacrados. Além disso, os jogadores podem decidir se continuam jogando ou terminam o torneio.  

Mas e se for a final de um torneio eliminatório que oferece um convite e uma viagem ao vencedor, por exemplo em um PPTQ? Aí fica um pouco diferente, mas ainda pode haver split. Um dos jogadores irá se retirar do torneio e o outro ficará com o convite e a viagem, mas os outros prêmios podem ser divididos como quiserem, como os boosters ou créditos, contudo a viagem e o convite são um único item e não podem ser divididos.


E NO REL REGULAR?

Chegamos até aqui explicando os limites das concessões, splits e id’s mas sempre tratando das infrações previstas no IPG e, portanto, aplicáveis somente aos torneios competitivos. No entanto, sabemos que a grande maioria dos torneios sancionados são regulares, então fica a grande pergunta: isso tudo seria diferente no nível de aplicação de regras regular?

A resposta simples é que: embora os documentos que guiam a aplicação de regras nos dois níveis sejam completamente diferentes, todas as situações ventiladas acima seriam resolvidas da mesma forma, explico.

Pode parecer contra-intuitivo mas tanto o IPG como o JAR trazem a mesma penalidade aos jogadores envolvidos nos casos abordados até aqui. Só para recapitular, as infrações que tratamos foram: Suborno (IPG 4.4) e Determinar um Vencedor de Forma Imprópria (IPG 4.3) e ambas tem como penalidade padrão no IPG a desqualificação (DQ). Acontece que, o JAR também trata o Suborno e Determinar um Vencedor de Forma Imprópria como problemas sérios de conduta, determinando também como penalidade a desqualificação dos jogadores envolvidos.

Então, deve-se aplicar tudo que foi abordado até aqui para os eventos que possuam o nível aplicação de regra Regular com base em seu documento oficial, o próprio JAR.  

Podemos ficar tentados a relevar uma situação dessas, de ter que aplicar uma desclassificação em um torneio regular, pois poderia se tratar de um jogador inexperiente, ou por não achar a atitude do jogador grave, mas como juízes devemos nos ater aos documentos oficiais e nos isentar de julgamentos de valor.

É importante também lembrar aos jogadores antes e durante esses torneios de nível regular sobre esses problemas de conduta, reforçando que são graves e acarretam penalidades severas, mesmo em torneios pequenos.  Agir de forma proativa e educar os jogadores é a melhor forma de evitar que essas situações ocorram. Mas se um problema sério desses ocorrer você deve tomar as ações que os documentos oficiais orientam.

 

CONCLUSÃO

Jogadores podem concordar em empatar a partida ou jogo, desde que de comum acordo com seu oponente, ou mesmo conceder uma partida ou jogo, ambos a qualquer momento e sem levar em consideração informações ocultas, como cartas do topo do deck ou oferecer algum incentivo para isso, por exemplo.

Também podem dividir a sua premiação com qualquer jogador do torneio, desde que de comum acordo, não receba nenhum incentivo para isso e que tal decisão seja independente de empatar ou conceder eventual partida entre ambos.

Se um jogador tiver dúvida sobre uma proposta a ser feita ao oponente ou à outro jogador, deverá chamar um juiz, pedir para se distanciar do oponente e explicar a situação a ele, que responderá se o que você oferece é legal ou não.

Em casos de mais dúvidas teóricas ou situações reais, comentem abaixo que posso responder ou preparar um estudo caso-a-caso.

 

Matheus Sobral
Nível 1 – Niterói, RJ

Matheus Sobral
Nível 1 – Niterói, RJ

Devotado às regras e aos procedimentos e decks super aggros e combos.

Créditos: fortemente inspirado no artigo “Intentional Drawing, Conceding and Splitting Prizes” (https://goo.gl/J3boRk)

 

5 thoughts on “Vamos splitar? Consequências e limites do ID, Split e Concessões

  1. Agradeço por todos os comentários, são o combustível para continuar produzindo conteúdo.

    @Tepedino: Agradeço especialmente as suas dicas, concordo com o termo “reestruturação de prêmios”, pena que não pensei nele antes =D. Quero nos próximos textos já colocar as suas dicas em prática. Abs!

  2. Gostei MUITO do artigo. minha única crítica é que ficou um pouco longo, acredito que dava pra ser mais sucinto, pra facilitar a leitura.

    Um detalhe: no caso da final, acho mais interessante chamar de “reestruturação de prêmios”, ao invés de split, uma vez que este dá a impressão de divisão igual

    Muito obrigado pelo material, querido!

  3. Parabéns pelo artigo Matheus! Bem elucidativo dando inclusive a referência de onde está na regra! Isso é muito importante! Faltam muitos artigos assim.

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