Enquadramento

Escrito Por: Marcello Klingelfus e Antonio Zanutto

maxresdefaultUma das coisas mais importantes do trabalho de um Juiz é garantir que todos os jogadores tenham um torneio limpo e justo, e também de consertar problemas que acontecem durante o torneio. No entanto, como sabemos se um problema é um erro genuino e sem malicias ou quando ele é classificado como Trapaça pelos documentos?

Este artigo não foca em investigações, mas ao invés disso, tem o objetivo de colocar luz no tema do que se classifica ou não como trapaça. Afinal, vários erros são cometidos ao longo de um torneio mas nem todos os jogadores que cometem erros são desqualificados.

Do Guia de Procedimentos de Infração:

“Uma pessoa quebra uma regra definida pelos documentos de torneio, mente para um oficial do torneio, ou nota uma ofensa cometida por si (ou por um colega de time) em uma partida e não alerta sobre ela.

Adicionalmente, a ofensa precisa cumprir com o seguinte critério para ser considerada trapaça:

  • O jogador precisa estar tentando ganhar vantagem através de sua ação.
  • O jogador precisa estar ciente de que está fazendo algo ilegal.

Se todos os critérios não forem preenchidos, a infração não é Trapaça e deve ser tratada como uma infração diferente. Trapaça muitas vezes surge como fruto de um Erro de Jogo ou Erro de Torneio e necessita ser investigada pelo juiz para se determinar a intenção e consciência.”

Vale notar que o documento Arbitrando em REL Regular (JAR) possui traços muito semelhantes em uma de suas categorias de Problemas Sérios. Do documento: “Intencionalmente e sabendo do problema, violar uma regra ou deixar o oponente violar uma regra com o intuito de ganhar vantagem”. E essa é basicamente a definição do IPG de Trapaça. Então lembre-se que Trapaça é um problema sério tanto em torneios de REL Regular quanto Competitivo, se apresentam da mesma forma e deve ser tratada da mesma forma.

Tendo isso em mente, vamos olhar alguns exemplos de situações e analisar aonde elas se enquadram.

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Cenário 1: Amanda controla Lança Veloz do Monastério, conjura dois Ataques da Mini Horda, não fala nada e ataca com a Lança Veloz do Monastério. Nelson conjura Amuleto Abzan com o intuito de exilar a Lança Veloz Monastério mas Amanda o interrompe dizendo “ela está batendo por 1”. Intrigado, Nelson levanta a mão e chama o Juiz.

 

Cenário 1.a: O juiz chega a mesa, Nelson explica o ocorrido e o Juiz começa a entrevistar Amanda para saber o que aconteceu. Após a investigação o Juiz acredita que Amanda sabia da habilidade desencadeada de Lança Veloz do Monastério e sabia que ela não poderia ter esquecido a sua habilidade.

Cenário 1.b: O juiz chega a mesa, Nelson explica o ocorrido e o Juiz começa a entrevistar Amanda para saber o que aconteceu. Durante a investigação Amanda revelou que esqueceu a habilidade desencadeada de propósito, porque segundo ela, habilidades desencadeadas benéficas não são obrigatórias.

Veja a diferença das duas situações. Em ambas as situações Amanda está tentando ganhar vantagem de uma situação de jogo e também cometeu um Erro de Jogo. No entanto, no cenário 1.a Amanda sabe que ela fez algo de errado, mas já no cenário 1.b ela acredita que fez uma ação de jogo completamente legal. O cenário 1.a caracteriza trapaça, já o cenário 1.b não caracteriza trapaça, porque ela não tinha consciência de que estava fazendo algo errado.

Corrigimos a situação 1.a desqualificando Amanda por trapaça, enquanto que na situação 1.b vamos explicar para a Amanda como as regras realmente funcionam e deixar Nelson escolher se ele quer colocar as duas habilidades da Lança Veloz do Monastério na pilha (imaginamos que a resposta será ‘sim’).


Cenário 2: Você está assistindo um jogo entre Anna e Nita. Anna ataca Nita com Guia Goblin, nenhuma menciona a habilidade desencadeada do Guia Goblin, Nita marca o dano. Anna passa o turno, Nita compra um card e conjura Visões do Soro, compra um card, coloca um terreno no topo e um card no fundo do grimório. Então Nita olha para você e diz “eu gostaria de colocar a habilidade desencadeada do Guia Goblin na pilha agora”. Anna diz “puxa, eu tinha esquecido no meu turno, desculpa” e Nita diz “sem problemas, eu não tinha esquecido, mas eu deixei para agora porque eu poderia conjurar Visões do Soro e ter mais chances de ter um terreno no topo”.

Não, isso não é trapaça. Nita não está fazendo nada de errado. Sim, ela está tentando ganhar vantagem de uma situação de jogo, mas ela não está cometendo nenhum erro de jogo e nem está fazendo algo de errado. Nenhum jogador é obrigado a apontar as habilidades desencadeadas de seus oponentes e também eles não precisam apontar a habilidade desencadeada quando ela ocorre. Pense nisso como uma desvantagem que um jogador tem por esquecer a própria habilidade desencadeada detrimental.


Cenário 3.a: João e Maria são amigos de longa data e eles foram jogar um PPTQ em uma loja de São Paulo. Enquanto Maria está jogando contra Luciana, João fica do lado de Maria. Então, do nada, Maria vira para João e pergunta “eu não sei do que ela está jogando, você acha que eu devo jogar o Siege Rhino agora ou jogar minha Anafenza?” e João responde “ela está de Atarka Red, eu acho melhor você ir de Rhino”. Luciana fica em choque. Depois de alguns segundos Luciana chama o Juiz e explica o que aconteceu. O Juiz então fala com a Maria e determina que Maria não sabia que não podia pedir conselhos para observadores durante a partida. Aqui Maria está cometendo uma infração e ela também está tentando ganhar vantagem, mas ela não tem ciência de que isso é algo ilegal. Nessa situação a infração cometida é Assistência Externa e tanto João e Maria são penalizados com uma Perda de Partida.

Cenário 3.b: João e Maria são amigos de longa data e eles foram jogar um PPTQ em uma loja de São Paulo. Enquanto Maria está jogando contra Luciana, João fica do lado de Luciana. Um espectador relata a seguinte situação para um Juiz: “durante o jogo a Maria não para de olhar para o João e ele fica observando toda hora a mão de Luciana, eu acho que tem algo suspeito”. O Juiz decide investigar e assistir a partida. Ele nota que Maria começou a conjurar um Comando de Kolaghan e disse “Descarta um card….” da uma olhada para João e completa “…melhor, dois de dano na sua Lança Veloz do Monastério e vou devolver o Siege Rhino para a minha mão”. Parece evidente ao Juiz que Maria está solicitando Assistência Externa, não só isso, ambos devem saber muito bem que isso não é permitido durante um torneio. Logo temos os três requerimentos necessários para trapaça: violar uma regra, estar ciente de que está fazendo algo errado e obter vantagem. Portanto, a infração aqui é trapaça com uma Desqualificação como penalidade.


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Cenário 4: Durante a quarta rodada de um PPTQ Modern Alvina esta jogando contra Nito, Alvina controla Confidente Sombrio e possui 2 pontos de vida. Durante a etapa de compra de Alvina, após comprar uma carta, Nito percebe que Alvina esqueceu da habilidade de Confidente Sombrio, levanta a sua mão e chama um Juiz.

Após chegar a mesa e perguntar o que ocorreu, o Juiz investiga e percebe que Alvina não havia esquecido da habilidade de Confidente Sombrio durante as rodadas passadas e que ela estava ciente que não pode esquecer de suas habilidades desencadeadas propositalmente. O Juiz chega a conclusão de que Alvina sabia da sua habilidade desencadeada, mesmo ela dizendo o contrário. Então nós temos uma infração e a vantagem obtida e a nossa investigação aponta que a jogadora sabia que não podia fazer isso. Mesmo que ela não tenha dito que o fez, isso se enquadra como trapaça.


Cenário 5: Durante um GP Selado, Aldia esta jogando contra Nashandra, em seu turno Aldia nota que o cemiterio de Nashandra esta vazio e conjura Nascimento Tumular, fazendo alvo em Nashandra. Aldia compra uma carta enquanto Nashandra lê Nascimento Tumular. No turno seguinte durante a fase de combate de Nashandra, Aldia percebe que esqueceu de colocar a ficha de Rebento Eldrazi no campo de batalha e chama um Juiz.

Cenário 5.a: Após a investigação o Juiz determina que Nashandra sabia que ela precisava avisar Aldia de terminar de resolver a sua magica, mas tambem, que após ler a carta Nashandra acreditava que como ela não tinha cartas em seu cemiterio, Aldia não colocaria a ficha em campo.

Cenário 5.b: Após a investigação o Juiz determina que Nashandra sabia que ela precisava avisar Aldia de terminar de resolver a sua magica e que após ler a carta Nashandra independente de ter ou não cartas em seu cemiterio, Aldia colocaria a ficha em campo, mas não falou nada porque Aldia estava sem baixar terrenos por vários turnos, então imaginou que se avisasse iria perder o jogo por Aldia poder baixar uma bomba.

No cenário 5.a nós temos uma jogadora com um mal entendimento das regras. Sim, ela está ganhando vantagem mas ela não tem consciência de que está fazendo algo errado. Ela acha que a mágica resolve de uma maneira diferente. Já no cenário 5.b a jogadora tem consciência de que precisava avisar sua oponente, logo, temos a intenção, vantagem e violação, a triade que forma a receita para trapaça. Em resumo, cenário 6.a é uma Violação de Regra de Jogo para Aldia e Falha em Manter o Estado do Jogo para Nashandra e no cenário 5.b temos que Nashandra cometeu Conduta Anti Desportiva – Trapaça.


Como fica claro nos cenários a cima, o enfoque para determinar se é ou nao trapaça, deve ser feito em cima das três condições: infração, vantagem e consciência. Se os cenarios  forem dividos em partes, acharemos pontos os quais afirmam ou negam as condições e são esses pontos os quais tem, as informaçõs mais importantes que voce pode obter em um cenario ou atendendo uma mesa.

Situação onde trapaças ocorrem, nem sempre são tão faceis de serem enquadradas, mas se durante a investigação fizermos perguntas as quais nos permitem extrair as respostas positivas ou negativas para as três condições, o enquadramento se torna mais facil.

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