Olá pessoal, tudo bem? Dando continuidade a série (conheça aqui o Carlos Rangon) esta semana conheceremos Rafael Dei Svaldi, nosso querido colega para lá da muralha, que além de juiz, este ano está organizando seu segundo Grand Prix. Espero que vocês aproveitem 😉
Rafa, obrigado por participar deste bate-papo. Mas além de chocólatra, conta pra gente, quem é você?Meu nome é Rafael Dei Svadi, tenho 40 anos, sou casado e moro em Porto Alegre. Atuo principalmente aqui no Rio Grande do Sul, mas viajo bastante e acabo dando pitacos em vários cantos do país.
E há quanto tempo você está no Programa? Consegue se recordar?
Meus primeiros torneios como juiz (não certificado) foram em 1998. Fiz a prova para Nível 1 em 2000, no Campeonato Latino Americano no Chile, e desde então não consegui mais parar.
Meu primeiro grande torneio como juiz foi o primeiro Grand Prix São Paulo, em 1999. Na época o programa estava em seus primeiros passos, e era possível para um juiz não certificado trabalhar em um GP. No ano seguinte eu fui jogar o Campeonato Latino Americano no Chile. Não me classifiquei para o segundo dia, e então fiz a prova com o Pedro Ceriotti, à época Nível 3 do Uruguai. Fui aprovado, e minha nota atraiu a atenção do coordenador de eventos da America Latina na época. Em função disso, ele me ofereceu um patrocínio para o próximo GP em Buenos Aires, para que eu fizesse a prova para Nível 2. Desta vez a prova foi com o Juan Del Compare (Nível 3 ainda ativo nos dias de hoje), e também fui aprovado.
O que te interessou no Programa de Juízes? E de lá pra cá quais foram suas motivações e quais desafios encontrou?
No meu caso, foi um conjunto de fatores. Quando eu conheci Magic, naturalmente me interessei pelas regras, e comecei a pesquisar mais sobre o assunto. Quando eu comecei a jogar competitivamente, achei interessante estudar as regras de torneios e eventos, até para saber o que eu poderia ou não fazer. Por meu interesse em regras, acabei me tornando uma das referências aqui na região. Quando comecei a organizar torneios na minha loja, acabei atuando também como juiz, e peguei gosto pela coisa.
Comecei a viajar para outros torneios fora da America Latina. Apitei vários Pro Tours (pois na época Níveis 2 também participavam destes torneios), e acabei conhecendo lugares que, talvez, eu não tivesse a oportunidade de visitar de outra forma. Dois anos depois, eu estava trabalhando em um Nacional Americano, quando me ofereceram a prova para o Nível 3. Embora eu não estivesse preparado, aceitei o desafio. O resultado foi terrível; eu realmente não estava preparado. Por outro lado, o feedback que eu recebi após a prova me fez ver caminhos e coisas sobre arbitragem que eu não tinha percebido. Eu passei então a encarar o Nível 3 como um objetivo alcançável, e na oportunidade seguinte, no Pro Tour Seattle, fui aprovado!
Talvez o maior desafio nesses anos todos tenha sido meu rebaixamento para o Nível 2 por inatividade em 2010. Eu fiquei bastante chateado com isso, e me desmotivei. Depois de um tempo refletindo, percebi que eu realmente não estava atuando como Nível 3 naquela época, e não seria justo manter um título que eu não exercia. Algum tempo depois, quando pude reorganizar minha vida e agenda, e com muito incentivo do Thales, me preparei novamente. Fiz a prova no GP São Paulo 2014, mesma ocasião em que o Charlie foi aprovado no painel.
Os Níveis 3 brasileiros chegaram a este Nível em momentos diferentes. O que significa ser um Nível 3 no Brasil?Acredito que as dificuldades que o Programa de Juízes enfrenta no Brasil são inerentes aos próprios problemas do país. Nesse sentido, nós, Níveis 3, acabamos enfrentando situações (como falta de recursos materiais, longas distâncias internas, concentração de juízes em determinadas regiões e carência de juízes em outras) que são muito reflexo das características do Brasil. Por outro lado, sentimos que nossa comunidade é mais unida, e os juízes aqui, graças às tecnologias de comunicação, estão mais próximos uns dos outros.
Para você há espaço para novos Níveis 3 no Programa brasileiro? Eles são necessários?
Sim e sim. Na verdade, há muito espaço para todos os níveis no Programa aqui. Mas, especificamente no caso de Nível 3, temos uma carência muito grande. Nós temos projetos para serem tocados, e temos pessoas aptas e dispostas para tomar a frente desses projetos. Não que alguém não possa tocar um projeto sendo Nível 2 ou Nível 1. Mas a condição de Nível 3 oferece oportunidades de atuar em eventos diferentes (ou em funções diferentes), e isso é uma grande oportunidade de aprendizado. Nós precisamos formar uma nova geração de Níveis 3, principalmente nas regiões mais afastadas das grandes concentrações de juízes.
Falando do Programa brasileiro, qual tem sido sua área de atuação?
Até o ano passado, eu estava envolvido com os processos de provas e preparação para Níveis 2. Eu também tenho participado de algumas conferências, e as vezes ajudo alguém que esta trabalhando de verdade (revisando artigos, dando sugestões, etc). Entretanto, o foco do meu trabalho com Magic desde o meio de 2015 tem sido a organização dos GPs do Brasil (Porto Alegre 2015, São Paulo 2016).
Olhando para o ano que passou, e para este que está chegando a sua metade – quais foram nossos grandes desafios e quais serão nossos grandes desafios?
Em termos de desafios do Programa, partilhamos os desafios que todos os demais países estão vivenciando. O Programa de Juízes está mudando, assim como sua relação com a Wizards. Esse é um processo evolutivo, mas algumas mudanças exigem adaptações por parte de todos os envolvidos (juízes, TOs e a própria Wizards). Para nós, entretanto, esses desafios são potencializados pelas características do Brasil (como os preços de passagens aéreas e a distância dos grandes torneios).
Para 2016, eu vejo duas grandes questões. Uma é interna do programa; como crescer, e como manter nossos juízes motivados e atuantes? A outra é uma questão de ordem conjuntural: o país está atravessando uma crise econômica, e isso terá um impacto negativo no mercado no qual estamos inseridos. Há algo que nós, juízes, poderemos fazer para ajudar a comunidade como um todo a atravessar esse período de turbulência?
Ainda falando destes desafios há algum plano estratégico para enfrentarmos estes? E como nós juízes e juízas de Nível 1 e 2 podemos ajudar?
Agora que as férias estão acabando, estamos começando (com a contribuição de diversos outros juízes) a discutir os desafios de 2016. Nós ainda não temos a resposta, mas sabemos que nada vai ser conquistado sem o engajamento da comunidade. Qualquer que seja o plano de ação, ele vai depender da ajuda dos Níveis 1 e Níveis 2. Sem esse pessoal, não existe Programa.
Dizem que esta é uma das perguntas feitas no Painel para o candidato a Nível 3, então vamos lá: Se você tivesse ferramentas e estrutura para mudar/melhorar/evoluir qualquer aspecto do Programa no Brasil, o que você mudaria?
Eu instituiria a obrigatoriedade de incluir chocolate nas compensações de juiz (algo como um auxilio chocolate). Ou então criaria um programa de intercâmbio, que oferecesse uma ajuda de custo para juízes que viajassem para eventos em que houvesse a oportunidade de troca de conhecimentos, ou de certificar candidatos em regiões remotas. Um dos nossos desafios é o tamanho do Brasil e os custos de viajar internamente. Nós temos muitas pessoas capacitadas, mas não temos os recursos para levar essas pessoas (e seu conhecimento) para certas áreas do país. Mas entre disseminar conhecimento e garantir chocolate, reconheço que é uma escolha difícil 😛
Para encerrarmos então. Depois de tantos anos se dedicando ao Programa de Juízes e Juízas, em específico ao Brasil, qual o aspecto do Programa mantém sua paixão acesa?
Ser juiz de Magic é uma das atividades que eu exerço a mais tempo na vida. Eu já tive a oportunidade de fazer e ver várias coisas, e atuar em diversos papéis. Ainda assim, o jogo, e o Programa, são tão ricos que existe muito a ser feito. Explorar essas novas fronteiras são uma das minhas motivações. A outra é a comunidade em si e as diversas amizades que foram surgindo pela estrada ao longo dos anos.
Participar do Programa de Juízes é algo muito divertido e legal, mas as vezes pode ser trabalhoso e exigir parte de nosso tempo (como qualquer hobby). Entretanto, a maior recompensa que ele pode nos dar é a diversão. Para isso, meu conselho aos juízes e juízas da nossa comunidade é que descubram quais aspectos do Programa são mais divertidos e interessantes, e persigam esses aspectos. Não tenham vergonha de se divertir!
Se vocês tiverem perguntas ou desejarem então em contato com o Rafa, deixem um comentário ou entrem em contato com ele através do seu perfil no Judge Apps.
Abraços, e até a semana que vem, onde trago a entrevista de nosso RC, Thales Bittencourt!