O Guia dos PPTQs Para Juízes Experientes

Cauê Hattori

Cauê Hattori

Por Cauê Hattori. Esse texto foi elaborado para juízes e juízas Nível 2+, porém tenho certeza que juízes e juízas de Nível 1 e entusiastas do tema poderão coletar informações preciosas 🙂

Desde o final de 2014 até agora, tenho apitado inúmeros PPTQs na cidade de São Paulo e no ABC Paulista (além de alguns no interior de SP), e com tantos eventos de laboratório, diversas experiências foram feitas. Aqui compilo algumas delas, bem como resultados e sugestões de mudanças.

Capítulo 1: Com Quem Trabalhamos

Quando você é escolhido para ser Juiz-Mor de um PPTQ (JM de agora em diante), existem duas partes que trabalharão com você que devem ser consideradas: a equipe do TO e a equipe de Juízes.

Equipe da Loja

É muito importante, antes de mais nada, conversar com o TO que te chamou para apitar. Além da negociação de compensação, alimentação e detalhes do tipo, é muito importante alinharmos as expectativas. Na maioria dos casos, o TO é também o dono da loja, e muitas vezes não está acostumado a torneios maiores que seus regulares ou FNM’s. Ele sabe a importância do uso de fichas de resultado? Tem noção de tempo quanto à duração do torneio (que tem obrigatoriedade do top8)? Quem costuma apitar os eventos dele? Existe um juiz certificado “fixo” na loja dele?

Essas informações podem te revelar um possível N0 que poderia aproveitar sua presença para entrar em nosso glorioso programa, e também te dirá se você vai estar sozinho ou não no dia. Caso algum funcionário da loja queira apitar, é importante que você converse com ele para alinhar se ele possui experiência/conhecimento o bastante para apitar um PPTQ e também alinhar a compensação.

Equipe de Juízes

Fechar uma equipe de juízes para trabalhar com você é ótimo! Por mais simples que seja apitar um torneio de cerca de 20 jogadores, PPTQs são excelentes oportunidades de apresentar torneios maiores aos juízes menos experientes. Realizei alguns testes com números diferentes de juízes e jogadores, e vi que as experiências são muito diferentes. Levem em consideração:

O nível do juiz ou juíza
E por nível, não me refiro somente às provas que ele passou, e sim os “sub-níveis” dentro do espectro dos níveis. O juiz já trabalhou em eventos competitivos? Já fez algum Hard Practice/Policy Practice? Conhece o IPG? Pretende avançar para o N2?

A quantidade de jogadores
Por mais que não seja possível saber isso de antemão, o TO deve ter uma previsão superficial da quantidade de jogadores que virão.

O que você pretende fazer com a equipe?
A experiência ganha nesse torneio pode vir de diversas formas (que serão discutidas de forma mais adiante), e o número de juízes será vital para essa escolha. Minha sugestão, e ressalto que é somente uma sugestão minha, e não uma diretriz:

Até 20 jogadores : JM + 1
Entre 20 e 30 jogadores: JM + 2
Acima de 30: JM + 3
Acima de 60: JM + 4

Candidatos N0 não devem entrar nessa conta (e recomendo que só sejam inclusos na equipe como trabalho voluntário, dado que este evento é competitivo), mas você pode usá-los nos extremos dos limites (por exemplo, um torneio em que você espere 20 jogadores exatamente poderia acontecer com JM + N1 + Candidato). O mais importante é se lembrar que tanto o TO que te escolheu para JM como o público do evento possuem expectativas quanto a qualidade do serviço oferecido, e você é o responsável por isso.

Para a escolha da equipe e a compreensão do nível do juiz (dentro do espectro, inclusive), recomendo o uso do JudgeApps. Isso permite que os juízes menos experientes se habituem ao seu uso e que você ofereça oportunidades iguais para uma comunidade cada vez maior e competitiva (ávida por experiência, por sinal). Além disso, ler Cover Letters é uma atividade muito interessante. 🙂

Como compensação, não quero oferecer uma diretriz sólida (cada um de nós sabe o quanto custa seu tempo), mas pessoalmente, gosto da divisão de 60% para o JM e 40% dividido entre o resto da equipe (desconsiderando candidatos).

Trabalho voluntário
Os tempos atuais geram muita concorrência, e um número grande de juízes (pelo menos em SP) tem vontade de apitar torneios somente pela experiência. Este é um grande dilema para mim: por um lado, juízes não devem trabalhar de graça em hipótese alguma; por outro, me parece incorreto negar a participação de juízes com essa vontade. Minha solução momentânea é de aceitar voluntários (geralmente ficando com uma equipe superpopulosa), mas recompensá-los de alguma forma para que eles não voltem pra casa de mãos vazias (um booster? dois boosters? nossas adoráveis genesis promocionais?). Acho importante que alguma compensação seja dada, mesmo que seja algo simbólico.

Nota do editor: Nós, como juízes e juízas, devemos zelar para que nossos pares sejam tratados com dignidade. À partir do momento que passamos a aceitar trabaljho voluntário como algo comum, as lojas passarão a enxergar o mesmo e passarão a desvalorizar o nosso trabalho e atuação. Antes de aceitar alguém trabalhando nesses moldes, verifique se você possui condições de pagar esta pessoa. Se possível, converse com a loja e mostre a importância de preparar novos juízes e juízas, e negocie com a loja alguma forma de compensação.

Capítulo 2: O Que Ensinar?

Quando lemos um report de um evento, é muito comum escutarmos sobre o atendimento ao público. Algo como “a rodada foi tranqüila, com somente um incidente […]”. A verdade é que os jogadores que participam de um evento competitivo, num geral, sabem jogar o jogo muito bem. Eles cometem enganos estratégicos, mas a grande maioria sabe como o jogo funciona porque está muito habituado a jogar Magic, MOL (aquele software bem ruim que roda um jogo muito parecido com Magic), assistir coverages de partidas, entre tantas outras mídias disponíveis.
Os juízes não são chamados muitas vezes para esclarecer dúvidas. O que podemos fazer, então, para não apenas aprender algo novo, mas também ensinar?

Trabalho em equipe

Uma das melhores lições que você pode dar para um juiz em uma das primeiras participações dele em um evento competitivo é mostrar o gosto do “Next Level Judge”. Sim, você já fez checagens de baralho, mas você sabe como funciona um time de deckcheck? Como você organiza as listas? Existe checagem de decks na rodada em que os juízes vão almoçar? Como funcionam os procedimentos de final de rodada (para evitar atrasos)?

Somente olhando, pode parecer um exagero, afinal, um torneio de 25 pessoas não vai sair do seu controle. Mas nos eventos em que as coisas podem sair do controle, ninguém terá tempo para ensinar nada disso.

Um Juiz Mor em um evento desses age como se fosse um Líder de Time, e uma das principais funções de um líder de time é garantir que sua equipe se divirta. Por mais monótono e/ou cansativo que seja o torneio, por melhor ou pior que seja a compensação, é extremamente importante que eles se divirtam e queiram voltar.

Magic Knowledge Pool

A comunidade de juízes é grande, e a maior parte das interações que acontecem nela (e em quase qualquer segmento da sociedade) é digital. Hoje, o que vejo, é uma participação baixa e de uma pequena parcela. Além de incentivar os juízes a participar mais, podemos aproveitar o ambiente para sugerir problemas (novos ou até mesmo da própria Knowledge Pool) para a equipe e, no final do torneio, fazer uma reunião um pouco mais longa discutindo esses problemas.

Achievements e Tarefas

No começo do torneio, tenho o hábito de fazer alguns pedidos para incentivar a equipe a prestar atenção em todas aquelas coisas que importam mas não são cobradas na certificação. Você sabe como funciona uma “missed trigger”? Que bom. Mas você procura ativamente por elas enquanto você é um juiz de salão? Colocar em forma de desafio – “quero que você aplique uma penalidade por missed trigger até o final da quarta rodada” – pode ser o tipo de incentivo necessário.

Outras atividades interessantes envolvem pedir que controlem o tempo de rodada, gerenciem horários de almoço, realizem a divisão da premiação (mesmo que essa já tenha sido divulgada, faça um cálculo alternativo hipotético e, dependendo da conclusão que chegar, mostre ao TO para eventos futuros) e, principalmente, sejam sombras. Ser sombra é importante para o próximo (e provavelmente mais relevante) dos pontos

Reviews

Criticar alguém diretamente é uma tarefa difícil. As pessoas não são preparadas para oferecer feedback negativo para as pessoas. Uma interação comum é uma roda com algumas pessoas conversando, e quando uma das pessoas se retira, os demais integrantes começam a falar “como esse cara é chato”, “será que ele realmente acha que a gente tava gostando de ouvir isso?” ou qualquer outro comentário do tipo. E o pior é que a pessoa continua fazendo isso, pois ela mesma não escuta essas críticas.

No programa de juízes, tentamos modificar esse comportamento com o sistema de reviews. O review nada mais é do que isso – uma fala assertiva sobre os pontos onde a pessoa deve melhorar e quais ela deve manter. Todos os juízes tem pontos fortes e fracos para serem apontados, e é dando e aceitando esse tipo de feedback que a comunidade cresce. É importante encorajar esse comportamento em todos os juízes, se não com reviews formais no Judge Center, pelo menos apresentando reviews “falados” no final do evento.

Capítulo 3: Conclusão

Na estrutura atual de eventos da WPN, o PPTQ é o melhor evento para esse tipo de aprendizado. Não é possível fazer tanta coisa com eventos tipicamente mais casuais (e em que o TO não está acostumado a pagar por uma equipe) como Game Days, Pré Releases ou GPTs. As oportunidades para eventos maiores são escassas – RPTQs, WMCQs, GPs. Um PPTQ é o primeiro passo para os jogadores que querem ser competitivos, e também deve ser o primeiro passo para os juízes interessados em avançar no programa.

Nada disso é desculpa para se perder o foco principal, que é a realização do evento com foco NOS JOGADORES. O TO está te pagando para que você trabalhe para ele, e os jogadores é quem custearam isso. Enquanto todos nós podemos errar, é dever do JM saber o quanto pode confiar em cada integrante da sua equipe e fazer o máximo possível para que nenhum erro venha a prejudicar um dos participantes do torneio. Qualquer erro cometido por um membro da sua equipe é de total responsabilidade sua. Se um juiz inexperiente cometeu algum erro “importante”, isso não diminui a sua culpa, que foi quem o colocou na equipe/atribuiu a ele essa responsabilidade. Com isso em mente, é importante reparar que a evolução da nossa comunidade depende do trabalho de base, e cabe a nós transformar um pequeno evento em um algo memorável para nossos colegas.

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