E uma das coisas mais comuns em juízes recentes é ser inseguro. Se pararmos pra pensar, é uma coisa bastante natural: quando somos confrontados com situações inéditas, o mais comum é que não tenhamos confiança e sintamos que as coisas são mais confusas e menos firmes. “Será que é assim que se lida com essa situação?”, é a pergunta que no fundo estamos nos fazemos.
O objetivo deste artigo não é responder essa pergunta, mas tentar mostrar jeitos de lidarmos melhor com ela. O problema não está em se questionar se existem modos melhores de fazer as coisas, esse é até um ponto de partida para que de fato nos aprimoremos. O cuidado que se deve ter é para não sermos paralisados por essa dúvida, e não deixarmos que ela prejudique nosso desempenho e nossos torneios.Juízes podem se sentir inseguros por muitas coisas. Algumas das principais situações em que há um certo desconforto são no atendimento aos jogadores, em conversas sobre regras ou procedimentos e em avaliações. Se tentarmos lembrar alguma vez em que passamos por isso, não será muito difícil.
Quais os problemas gerados por isso?
Quando jogadores recebem respostas que o próprio juiz parece não acreditar, ou quando veem juízes aflitos correndo de um lado pro outro, eles mesmos passam a se sentir menos confiantes quanto ao torneio. Essa desconfiança pode se desdobrar em atendimentos mais longos do que deveriam, apelações que não precisavam ter ocorrido, ou então até problemas que nem chegam aos olhos dos juízes, como por exemplo uma jogada ilegal em que os jogadores não sentem firmeza para chamar um juiz. Todos esses atendimentos mais longos, hesitações e apelações ao final do dia podem acarretar em atrasos e em jogadores menos contentes. Conseguimos prover um serviço melhor do que esse.Então a insegurança pode atrapalhar seus torneios. Mas além disso, ela também pode te atrapalhar.
Se você se censura ao conversar sobre regras e procedimentos com outros juízes e não tem coragem de escrever avaliações para outros juízes (especialmente se eles forem mais experientes), você vai ter muito mais trabalho para conhecer melhor as regras, aprender novos métodos e se abrir ao intercambio de experiências. Não podemos deixar que o medo de errar nos prive de um dos aspectos mais legais do Programa de Juízes, que é justamente essa possibilidade de aprender e ensinar uns aos outros.
Encontrando sua própria confiança
Por mais clichê que soe, a minha primeira sugestão é aceitar que erros serão cometidos. Gente que está há anos no Programa de Juízes erra. Não há juiz perfeito, então não deixe o medo de errar te paralisar. É lógico que devemos evitar errar, e se estivermos mesmo em dúvida quanto a algo, devemos confirmar. Mas se você sabe a resposta e mesmo assim não se sente à vontade para responder porque “talvez você esteja errado”, lembre-se que você é um juiz certificado, que está ali justamente para isso. Se estiver mesmo errado, não é o fim: aproveite e aprenda com isso. Você vai reparar que o segundo atendimento será mais fácil, o terceiro mais ainda, e algum dia você nem vai mais saber quantas vezes fez isso. Peça dicas à juízes mais experientes. Eles com certeza já passaram por momentos de insegurança, com certeza ainda enfrentam esses momentos de vez em quando, e certamente podem falar alguma coisa a respeito. Peça para que um colega te observe enquanto você faz um atendimento, e também observe como ele lida com as situações que se apresentam. Cobre avaliações! Você vai poder consultar essas dicas depois e elas ficarão arquivadas no Centro de Juízes. E por que não escrever uma avaliação também? Uma das melhores maneiras de ir ganhando confiança é continuar apitando torneios. Com o tempo, o que era desconhecido vai ficando conhecido, os mesmos erros deixam de ser repetidos. Atendimentos que antes eram tensos vão ficando mais tranquilos, dúvidas que não eram discutidas passam a serem debatidas, e feedback cada vez menos fica entalado na garganta, gerando aprendizados mútuos. E mesmo assim, ainda vamos errar eventualmente.O mais importante disso tudo? Nossa postura em relação ao erro e o medo de cometê-lo. Somos juízes e vamos encontrar situações inusitadas. Vamos lidar com elas.