Oi pessoal! Meu nome é Lucas Horta e sou Juiz há algo perto de 10 anos. Meu objetivo com esse artigo é apresentar uma iniciação a investigações: algumas dicas de como realizá-las, que tipos de perguntas fazer e como garantir um bom andamento nas suas investigações.
Antes de mais nada, se pergunte o seguinte: quando devem ser feitas investigações? Em situações cabreiras e escusas? Quando o seu sentido aranha te alertar? Pense um pouco e, quando tiver a resposta, clique no botãozinho abaixo.
Quando?1. Conduzindo uma investigação.
Ao se deparar com uma situação em que você vai precisar investigar um pouco mais, é importante ter em mente alguns fatores imprescindíveis. É muito importante levar tudo isso em consideração para garantir que a sua investigação vai ter êxito e que o seu atendimento vai ser satisfatório para todo mundo que estiver envolvido:
- Tempo na rodada
- Integridade de informações
- Histórico dos envolvidos
1.1. Tempo na rodada
1.2. Integridade de informações
Separe os jogadores e escute as suas histórias, um a um. É hora de escutar o que cada pessoa tem a dizer e é aqui em que você vai poder diferenciar se tem algo sério ou um erro honesto está acontecendo. Se possível, peça ajuda de outro juiz para observar a mesa, garantindo que nada vai mudar de lugar enquanto você está fazendo a sua investigação.
Não alimente informações a jogadores ou guie as suas histórias. Apenas escute o que eles têm a falar. Faça perguntas genéricas, como “o que aconteceu?” e nunca perguntas do tipo “você acha que o que aconteceu foi isso?”, pois esse tipo de pergunta pode acabar contaminando as informações que a gente tá buscando. Se alguém estiver mentindo, vai precisar inventar alguns passos para que a sua história faça sentido, e muitas vezes, se a pessoa que estiver errada não estiver mentindo, ela não vai conseguir ilustrar muito bem o que realmente aconteceu. Tome cuidado: às vezes alguns pedaços de informação das histórias podem não bater exatamente, mas isso não significa que alguém esteja mentindo. É comum a gente preencher espaços que não estão claros na nossa memória com construções. O importante é saber se as histórias no geral batem.
De posse das informações que você já tem, está na hora de ter chegado em alguma conclusão, mesmo que não seja uma em que você possa tomar uma decisão ainda. Se você já tiver confiança e acreditar que está num caso simples de divergência, entregue um ruling. Caso contrário, envolva mais alguém na sua investigação, caso você não seja o HJ, ou prossiga com ela caso seja. É uma boa ideia escutar os jogadores novamente se você for o HJ, mas não insista muito nisso. Ficar interrogando e fazendo as mesmas perguntas várias vezes é um caminho meio sem volta pra garantir que o jogador vai acabar mentindo, mesmo que sem querer, pra se ver livre da situação, e a gente não trabalha com confissões forçadas.
1.3. Histórico dos envolvidos
E você não precisa se limitar ao que aconteceu nessa partida para investigar: o jogador teve outros oponentes durante esse evento, e eles também podem te auxiliar com informações. Uma pergunta rapidinha ao seu scorekeeper vai te dizer quem foram os oponentes anteriores da pessoa que está sendo investigada, bem como onde eles estão jogando nessa rodada. Note que a partida precisa continuar enquanto você faz essa investigação que contém elementos externos à partida. Deixa o pessoal jogar e faz teu nome.
Outro ponto importante que pode te auxiliar é o histórico de penalidades cometidas pela pessoa em questão. A pessoa já cometeu outras infrações no torneio? Ele é jogador local de alguém na staff? Tem alguma fama de causar problemas? Lembre-se de que quando você está apitando, não está ali para julgar caráter, apenas situações daquele evento, mas o histórico de alguém pode dizer muito sobre haver ou não intenção quando erros são cometidos.
2. Desclassificações.
Integridade. Essa é a palavra chave. A gente desclassifica alguém de um torneio pra garantir a integridade dele. Pra garantir que quem venceu o torneio foi a pessoa que jogou melhor, sem a ajuda de fatores externos ou atitudes escusas. E pra garantir que todos os competidores saiam do torneio com vontade de voltar ao próximo, porque tiveram um torneio justo e divertido.
Lembrem que só quem desclassifica jogador de torneio é HJ. Não saiam por aí usando os poderes do martelo se vocês estiverem trabalhando em equipe! Esse bucho é do HJ, que provavelmente vai ser você mesmo no seu torneio regular de loja.
2.1. Por que desclassificar alguém: parte 1.
2.2. Por que desclassificar alguém – parte 2.
2.2.1. Trapaças pré-meditadas.
Aqui se enquadram as trapaças em que o jogador já chegou no torneio na intenção de trapacear. Cards marcados de maneira intencional, jogar com menos de 60 cards, não listar “flex slots” para poder escolher uma tech contra cada oponente ou fazer maço são alguns exemplos. São DQs que vão sempre partir de uma decisão de julgamento sua: saber se havia intenção. Se você detectar que há, martelo neles. Do contrário, o IPG ou o JAR provavelmente te falam o que fazer.
2.2.2. Trapaças de oportunidade.
Essas aqui vão provavelmente surgir de uma pequena violação de regra de jogo ou um aproveitamento de um descuido do oponente. O jogador não necessariamente planejou isso, mas quebrou uma regra ou permitiu que uma regra fosse quebrada de maneira a obter uma vantagem disso de maneira intencional.
2.2.3. Trapaças “involuntárias”
Essas aqui são um pouco parecidas com as anteriores, mas vão envolver situações em que a pessoa se colocou lá sem querer: cometer um erro simples e tentar corrigí-lo sem envolver o oponente nem algum juiz, ou mentir por ter cometido um erro bobo e ter vergonha de admití-lo são exemplos. Você pode sentir um pouco de empatia pelo jogador e pensar que foi algo feito sem muita malícia, mas é importante lembrar o nosso primeiro ponto quando falamos sobre DQs: integridade. A integridade do evento foi comprometida por uma ação deles, então eles têm que ir.
2.3. O que fazer num momento de indecisão?
Há quanto tempo eu estou nessa investigação? O evento precisa continuar. Tente tomar a decisão que você acha que é mais correta, mas faça isso rápido. Quanto mais tempo você leva nessa investigação, mais tempo adicional vai precisar dar aos jogadores caso uma desclassificação não ocorra. Qualquer coisa acima de 15 minutos já deve te colocar numa situação de ação imediata.
Manter os jogadores no torneio vai prejudicar a integridade do evento? Você pode não estar 100% seguro de aplicar a penalidade. Afinal essa penalidade específica carrega um peso, que é o fim do torneio para alguém. Mas pense no evento, e não na pessoa: os erros que essa pessoa cometeu podem ter causado danos irreparáveis ao evento. Mantê-la no evento não estaria prejudicando a integridade dele?
Estou com medo das consequências? É compreensível ter receio do que pode acontecer depois de desclassificar alguém: a pessoa pode ser um amigo, frequentar a loja, organizar eventos, o TO pode ficar preocupado de perder um cliente. Enfim, há vários motivos para ser receoso de aplicar um DQ, mas nenhum desses é motivo para não aplicá-lo. Esteja seguro na sua decisão e saiba que você tem uma comunidade de juízes que vai te apoiar e te orientar em como lidar com o que vier depois.
2.4. Entregando o DQ
Separe a pessoa do público. A pessoa está prestes a receber uma desclassificação e isso possivelmente vai deixá-la consternada. Ela não precisa de exposição agora. Se um jogo ainda estiver rolando, peça ao oponente que aguarde um pouco e, se possível, oriente um outro juiz a acompanhar aquele jogador enquanto o DQ estiver acontecendo.
Seja cordial. Você não está passando julgamento de caráter, nem odeia a pessoa. Ela só cometeu uma infração que carrega uma sanção. Trate os envolvidos com educação e explique o que está acontecendo.
Não peça desculpas. Evite ao máximo palavras como “infelizmente” ou “sinto muito”. A pessoa que tá sendo desclassificada lutou pelo DQ dela e mereceu, você só tá aplicando o que o livro diz. Assuma uma postura informativa e não apologética.
Seja claro e conciso. No momento de um DQ, não vai haver espaço para debate. Apresente as informações que você tem, que você acredita que houve malícia ou intenção e dê uma oportunidade do infrator adicionar algo. Na vasta maioria das vezes, eles vão falar algo que não vai mudar nada. Explique que a sua decisão é final. O seu evento precisa continuar, e muitas vezes essa desclassificação vai estar segurando o evento. Ofereça à pessoa a oportunidade de conversar em outro momento, caso ela não concorde com a sua decisão.
Oriente a pessoa desclassificada. Explique que o torneio daquela pessoa está acabando agora, mas ela ainda é bem-vinda a estar no local de evento e jogar side events, conversar e assistir jogos (excluindo aqui os casos em que o comportamento de desclassificação pode causar problemas à segurança de terceiros). Oriente a pessoa a escrever um depoimento agora mesmo para se defender e relatar o seu lado da história, e a te enviar um e-mail com o depoimento dela dentro de um prazo que você estabelecer. Não leia o depoimento até você ter escrito o seu. Uma boa ideia é imprimir e entregar à pessoa uma cópia do FAQ de jogador desclassificado, disponível aqui.
Abra uma investigação. Você vai precisar abrir uma investigação sobre a sua desclassificação no apps. Só ir na aba Investigações do apps: https://apps.magicjudges.org/investigations/
3. Conclusão
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